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Brasileiros exageram no consumo de bebida alcoólica. Oito em cada dez (82% dos consumidores) acreditam beber moderadamente Foto: Pixabay

Oito em cada dez brasileiros que abusam de álcool acham que bebem moderadamente

Brasileiros exageram no consumo de bebida alcoólica

Oito em cada dez (82%) dos brasileiros que fazem uso abusivo de bebida alcoólica acreditam beber moderadamente, aponta pesquisa do Instituto Ipsos-Ipec, realizada em setembro e divulgada nesta quarta-feira (12). O percentual é maior do que o registrado em 2023, quando 75% tinham essa falsa percepção.

A pesquisa divulgada nesta quarta-feira mostrou ainda que apenas um em cada dez (9%) dos bebedores abusivos reconhecem exagerar na bebida e acreditam que precisam mudar. Em comparação com 2023, 13% foram capazes de identificar que tinham um problema nesse sentido. Os dados mostram que o consumo abusivo de bebida alcoólica ainda é um desafio para a saúde pública.

Mudança de hábito

“A interpretação errada do seu próprio padrão de consumo é um dificultador para a mudança de hábito”, explica o psiquiatra Arthur Guerra, presidente do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), que encomendou a pesquisa.

“Ser mais tolerante ao álcool, ou seja, beber muito e não sentir os efeitos do álcool, não significa ser mais resistente ou estar protegido dos prejuízos do álcool. Pelo contrário, precisar aumentar a quantidade de álcool para atingir os efeitos desejados é um sinal de alerta”, acrescenta.

É importante, antes de tudo, identificar grupos mais vulneráveis para promover campanhas educativas e preventivas. Além disso, a pesquisa revelou que o consumo abusivo de álcool, ou seja, sete doses ou mais por ocasião, é mais prevalente entre homens (26%). Também se destaca entre pessoas de 25 a 44 anos (54%), com ensino médio completo (25%) e das regiões Norte e Centro-Oeste (31%).

Segundo análise com base de dados do Datasus, em 2023 o Brasil registrou 73.019 mortes associadas ao uso de álcool. Isso representa, portanto, um crescimento de 10,2% entre 2010 e 2023, com uma taxa de 34,5 óbitos por 100 mil habitantes. Quinze estados estão acima do índice nacional. As maiores taxas estão no Espírito Santo (47), seguido por Paraná (40,7), Piauí (41,7) e Tocantins (41,9).

Brasileiros em geral estão bebendo menos

A pesquisa mostrou também que mais brasileiros deixaram de beber nos últimos dois anos. A maioria dos brasileiros (64%) afirmou não beber em 2025, um aumento em relação a 2023, quando 55% disseram não consumir bebida alcoólica.

O levantamento indicou também uma diminuição da frequência do consumo, com redução de seis pontos percentuais na ingestão de bebida alcoólica uma vez por semana ou a cada quinze dias. Assim, entre os bebedores, acima de um terço (39%) consome de uma a duas doses por ocasião.

A mudança é reflexo principalmente do recuo do consumo entre jovens de 18 a 34 anos. Entre pessoas entre 18 e 24 anos, a abstinência de bebida alcoólica aumentou de 46% para 64%. Já entre a faixa etária de 25 a 34 anos, esse percentual passou de 47% para 61%.

“Além do aumento da abstinência, o consumo abusivo de álcool na faixa etária dos 18 a 24 anos diminuiu de 20% para 13% em dois anos”, diz a doutora em sociologa Mariana Thibes, coordenadora do Cisa. “Nesse sentido, a maioria deles, quando bebe, consome uma ou duas doses por ocasião.”

Já em 2023, o Cisa observava que pesquisas realizadas em vários países, especialmente os de alta renda, como Reino Unido e Estados Unidos, demonstravam menor interesse dos jovens no consumo de bebida alcoólica. A maior conscientização sobre os efeitos nocivos do álcool e mudanças nas normas sociais e culturais podem estar por trás dessa tendência.

Metodologia

A pesquisa Ipsos-Ipec sobre o consumo de álcool pela população brasileira ocorreu em setembro de 2025. Foram entrevistadas 1.981 pessoas de 18 anos ou mais. Além disso, participaram homens e mulheres das classes socioeconômicas A, B, C e DE. O levantamento foi conduzido em âmbito nacional, de forma presencial e domiciliar.

Por fim, a classificação “abstêmios, moderados ou abusivos” ocorreu com base na pontuação das três primeiras perguntas do questionário aplicado. Essa pontuação corresponde ao AUDIT-C, versão reduzida do AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test).