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Para o bife wagyu ter esse nível de qualidade, pensando em marmoreio, só ter uma genética boa não é o suficiente

Com bife wagyu a R$ 1.300/kg, marca de carne fatura até R$ 200 milhões

Mercado de importação de carne premium

A maior parte da carne vendida pela marca é importada. Os cortes vêm de países como Uruguai, Argentina, Japão, Estados Unidos, Austrália, Chile, Nova Zelândia e Brasil. “Cada país tem a sua vocação em termos de carne. Hoje, também orientamos frigoríficos a produzirem com mais qualidade”, diz Shimbo.

O chorizo de wagyu é um exemplo. Um corte de 560 gramas sai a R$ 723,31 no site da companhia, o equivalente a quase R$ 1.300 o quilo. A carne é produzida em Kagoshima, no Japão, e importada com exclusividade pela 481. O bife tem classificação A5, a mais alta do mundo. Todas as peças têm certificação. Shimbo explica que os bois dessa raça típica do Japão são maiores, com mais tempo de amadurecimento e marmoreio – que é a formação de gordura entremeada. “É uma iguaria, não é para o churrasco com os amigos”, afirma.

Modelo de negócios

A 481 traz a carne dos produtores – brasileiros e estrangeiros – para seu próprio frigorífico. Ele fica em Louveira, interior de SP, assim como o escritório da empresa. São cerca de 250 funcionários, de corte ao administrativo.

É uma forma de garantir padronização. Todos os bifes e cortes são do mesmo tamanho, com o mesmo peso, essencial para a venda para restaurantes. Isso porque grandes frigoríficos não conseguem atender os restaurantes de forma personalizada, que são pequenos demais para a sua operação.

Os restaurantes com foco em carne buscam cortes mais consistentes, com o mesmo peso, preço e qualidade, para que o consumidor tenha sempre a mesma experiência. Para melhorar a eficiência, a empresa conta com uma tecnologia de escaneamento dos bois, para que o funcionário saiba exatamente onde fazer os cortes e diminuir o desperdício.

De restaurantes a delivery

O primeiro cliente foi o Pobre Juan, rede com mais de 10 restaurantes especializada em cortes argentinos. Atualmente, vende para mais de 1.500 estabelecimentos, como a Z Deli, Bullguer, a Fazenda Churrascada em São Paulo e a Malta Beef Club no Rio de Janeiro.

A empresa decidiu expandir os canais de venda com a pandemia. Na época, mais de 90% de seu faturamento vinha de restaurantes. Hoje, essa fatia é de 60%. “Queremos ser líderes em soluções de proteína para restaurantes e fine dining”, diz Shimbo.

Outros 30% das receitas vêm do varejo. Em 2014, começou a vender para supermercados e lojas especializadas, principalmente boutiques. Está presente em mercados como Santa Maria, Santa Luzia, Mambo e Zona Sul, no Rio de Janeiro. “Os cortes são padronizados, em peso constante, e com uma vida útil maior que carnes de açougues tradicionais”, afirma o empreendedor.

O restante do faturamento vem de vendas para o consumidor final. Ainda restrito a alguns bairros da cidade de São Paulo, o delivery de carnes nobres chega em até uma hora em uma caixa térmica específica.

“Queremos continuar crescendo dois dígitos todo ano e expandir para o varejo mais butique”, afirma Shimbo. O delivery deve expandir em São Paulo e chegar na cidade do Rio de Janeiro.

Mercado é pequeno, mas tem potencial

A produção de carne premium no Brasil não chega a 2% do total, e é principalmente para o consumo interno, de acordo com Ronaty Makuko, analista de pecuária da Pátria Agronegócios.

Produzir essa carne leva tempo e tem custos. Para chegar a um animal com alto nível de qualidade, são necessárias de cinco a sete gerações. Chegar a uma produção massiva complicado, afirma.

“Para uma carne ter esse nível de qualidade, pensando em marmoreio, só ter uma genética boa não é o suficiente”, diz Makuko. O cuidado inclui alimentação e outros custos altos, e a remuneração também não é imediata. “O pecuarista vive no imediatismo. A sua margem de lucro é muito pequena para fazer essa mudança. Por isso, no Brasil o nosso produto é uma commodity”, afirma.

Segundo ele, o mercado de carnes premium é novo no Brasil. “Assim como o mercado do vinhos, de cervejas artesanais, o mercado de cortes premium é novo, na comparação com o mercado argentino ou americano”.

Porém, há potencial para crescer, já que o cliente fisgado não tende a voltar para outros cortes. “O paladar não retrocede. Quem degustou uma carne diferenciada vai atrás. Não irá consumir toda semana, mas passa a se tornar um hábito”, diz. E, se o consumidor busca, o pecuarista vai produzir mais.