Ensino médio tem avanço mas disparidade ainda preocupa
Estudo feito pela organização Todos pela Educação concluiu que a quantidade de estudantes que concluíram o ensino fundamental e o ensino médio no país avançou nos últimos dez anos, com aumento considerável da inclusão, porém ainda insuficiente para diminuir a disparidade, tanto considerando critérios raciais quanto de renda.

A pesquisa avaliou os índices de conclusão da educação básica na idade correta, sendo 16 anos para o ensino fundamental e 19 para o ensino médio. Além disso, para realizar essa análise, comparou os dados de 2015 e 2025 com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) e em seu Módulo Educação, ambos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Avanço significativo no ensino fundamental
Entre as conclusões apontadas pela pesquisa, destaca-se o avanço significativo no ensino fundamental, pois o número de concluintes até 16 anos passou de 74,7% em 2015 para 88,6% em 2025, representando crescimento de 13,9 pontos percentuais. Além disso, no ensino médio, o avanço foi ainda maior, uma vez que o índice subiu de 54,5% para 74,3%, o que corresponde a um aumento de 19,8 pontos percentuais.
“Esse avanço nós podemos atribuir a uma série de fatores. Houve melhorias no ensino ao longo da última década”. Segundo Manoela Miranda, gerente de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, houve avanços em políticas pedagógicas e na base de formação de professores. Assim, essas ações contribuíram para melhorar o ensino de fato.
Para ela, há outras hipóteses, especialmente relacionadas aos últimos anos, que também podem ser consideradas. Entre elas estão as aprovações durante o período pandêmico, que diminuíram a distorção idade-série. Além disso, pode ser um reflexo das últimas décadas, com maior acesso à educação básica. Isso ocorre porque mais estudantes estão frequentando a escola, o que, conforme explicou Manoela, é muito positivo.
Fator mais determinante ainda é a renda
Cruzando os dados de conclusão em critérios de diferenças raciais, de gênero e de renda, o fator mais determinante da disparidade no ensino fundamental e médio ainda é a renda. No ensino médio, a diferença na taxa de conclusão entre os 20% mais pobres e os 20% mais ricos caiu 15,2 pontos percentuais ao longo da década, passando de 49,1 em 2015 (36,1% versus 85,2%) para 33,8 em 2025 (60,4% versus 94,2%). Ou seja, ambos os grupos avançaram, porém a disparidade ainda é considerável. Hoje, entre os 20% mais pobres, a quantidade dos que se formam no ensino médio ainda é 25% menor do que aqueles que se formavam, entre os 20% mais ricos, há dez anos. Essa diferença indica que, mantido o ritmo atual, os jovens mais pobres só terão as mesmas chances que os mais ricos de concluir o ensino médio em mais de duas décadas.
Raça ou cor não devem ser desconsideradas
Embora menos determinante, o critério de raça ou cor ainda é importante e não deve ser desconsiderado. Segundo o resumo do estudo, a análise por recortes de cor ou raça também ressalta diferenças nas taxas de conclusão entre estudantes brancos e amarelos e pretos, pardos e indígenas (PPI). Em 2025, a taxa de conclusão foi de 81,7% para brancos/amarelos e 69,5% para PPI, uma diferença de 12,2 pontos percentuais, quase um terço da diferença entre os mais ricos e mais pobres.
Mesmo entre os mais pobres, a questão racial é determinante. Ao comparar os homens mais pobres, os PPIs têm taxa de conclusão hoje de 78,6%, a menor entre os segmentos. Jovens do sexo masculino pobres, porém, fora do critério de PPI, têm média de 86% de conclusão. O inverso ocorre entre as meninas, pois para elas as 20% mais pobres entre os PPIs têm 86,5% de taxa de conclusão, ante 85,5% de brancas e orientais. Na outra ponta, mulheres entre os PPIs têm 100% de taxa de conclusão, e as de descendência branca ou asiática, 99,3%. Homens brancos ou asiáticos têm taxa de 99,1% de conclusão, enquanto homens PPIs têm 93,2%.
A disparidade regional também permanece relevante
Segundo o estudo, no ensino médio, as maiores evoluções da década ocorreram nas regiões Norte e Nordeste. No Norte, houve alta de 25,7 pontos percentuais, passando de 43,4% em 2015 para 69,1% em 2025. Já no Nordeste, o avanço foi de 23 pontos percentuais, subindo de 46,3% para 69,3% no mesmo período.
Apesar dos aumentos, as taxas ainda permanecem distantes das registradas no Sudeste, com 79,6% de conclusão. Também ficam atrás do Centro-Oeste, com 75,4%, e do Sul, com 73,6% de concluintes dentro da idade correta.
“A gente tem que olhar para esse território, para as igualdades regionais que se refletem em outros indicadores também da educação básica. É muito importante olhar para políticas que possam avançar nesse sentido. Além disso, é essencial agir de forma intencional sobre as desigualdades, considerando as particularidades regionais. Isso vale especialmente para o Norte e o Nordeste, onde os estudantes mais precisam”, avalia Manoela.
Objetivo é evitar a evasão escolar
Os resultados do estudo também mostram que é preciso ampliar e acelerar os esforços. O objetivo é evitar a evasão escolar e o atraso na conclusão dos ciclos de ensino. Entre as soluções consideradas estão a ampliação das políticas de apoio à continuidade dos estudos. Também estão incluídas políticas de complementação de renda e o uso do ensino integral como política pedagógica de fomento.
“Pesquisas recentes em alguns estados brasileiros já apontam redução da evasão no ensino médio. Isso ocorre quando o estudante está no ensino médio integral, em comparação ao ensino médio regular.”
Para a gerente da organização Todos pela Educação, políticas de recomposição das aprendizagens também são muito importantes. “E, claro, políticas que visam à redução das desigualdades, tanto socioeconômicas, quanto raciais ou regionais. Então, é muito importante que cada estado tenha um bom diagnóstico e entenda os maiores motivos e as causas desse abandono na sua rede de ensino para pensar uma combinação de ações e políticas de permanência que façam mais sentido para o seu território”, afirma.
Fonte: agênciabrasil


