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Sofia Coppola é uma diretora tão bissexta quanto mordaz. Poucas vezes na história do cinema surge alguém com sua capacidade

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Encontros e Desencontros e a Magia Melancólica de Sofia Coppola

Sofia Coppola é uma diretora tão bissexta quanto mordaz. Poucas vezes na história do cinema surge alguém com sua capacidade de apontar a mágoa fundamental de que toda criatura dotada de um mínimo de razão e sentimento é composta, por culpa das escolhas que tem feito no transcurso de uma vida insuportavelmente longa ou curta demais, sem que tenha grande importância a quadra em que se encontre, o desgoverno do mundo ou a impossibilidade das utopias.

“Encontros e Desencontros” junta um casal exótico, um anticasal, feito de um homem e uma mulher que se reconhecem ao termo de um martírio soturno e arrastado. Assim, precisam se refazer, começar outra vez boa parte da jornada do zero antes que tudo se desvaneça. Antes que seja tarde demais. A diretora usa de enquadramentos calculados com justeza a fim de dar ao público a ideia mais próxima do que sentem seus personagens. Mas do que vai pela cabeça, ao passo que tenta entender sua gênese e seus apocalipses, como também age o pai, Francis Ford Coppola.

Bob Harris, o ator de meia-idade vivido por Bill Murray, está simplesmente aparvalhado com o que pode apreciar de dentro de um táxi da Tóquio que pulsa do lado de fora. Os outdoors gigantescos bruxuleando em neon feérico, logo perdem a magia frente a um lugar que se revela inamistoso, apesar do temperamento pacífico da gente que cruza o seu caminho.

A língua é um problema real

Como o próprio título original sugere, a língua é um problema real, para Bob ou qualquer outro forasteiro do Ocidente que chegue para faturar dois milhões de dólares com uma campanha publicitária de uísque. Ou para limpar os banheiros impecáveis que mais parecem monumentos da novíssima arquitetura.

Murray confere a seu personagem a aura de uma pessoa apartada de tudo, inclusive de si mesma. Na sensação que se espraia e toma conta do que pode restar-lhe de íntegro, Bob enfrenta um problema de localização geográfica, por óbvio, mas, antes de mais nada. E esse homem das dores fingidas se bate com um desajuste de si para si mesmo, uma inadequação com o que veio a ser.

Com a parcialíssima ajuda do destino, conhece Charlotte, uma garota que não se pertence. Assim, vive em função de um marido que a abandona num quarto de hotel. Dessa maneira, passa dias a fio acompanhando uma banda de rock como fotógrafo.

A doçura meio amarga de Scarlett Johansson é cartesiana em sua dobradinha com Murray. Mesmo que esse pseudorromance nunca vá se consumir — eles se beijam como se por acaso na derradeira sequência, Assim, marca um dos grandes momentos do cinema contemporâneo. A tradução aqui foi feliz: Bob e Charlotte são almas gêmeas que passam uma pela outra como estrelas cadentes.

Filme: Encontros e Desencontros
Direção: Sofia Coppola
Ano: 2003
Gêneros: Drama/Comédia