Em tempos de reuniões à distância é comum tirar um tempinho após a finalização do compromisso profissional para colocar o papo em dia
As conversas fazem parte do ambiente de trabalho, mas há um problema: a inteligência artificial.
Transcrição de reuniões a partir de IA pode gerar ‘dor de cabeça’
- O pesquisador e engenheiro Alex Bilzerian contou que, após uma reunião realizada pelo Zoom com alguns investidores, recebeu um e-mail automatizado do Otter.ai, um serviço de transcrição de reuniões que usa IA.
- A ferramenta continha o resumo de toda a reunião, inclusive a parte que aconteceu depois que Bilzerian se desconectou. Ou seja, quando os investidores falaram sobre as falhas estratégicas da empresa.
- A Otter.ai afirmou que os usuários têm controle total sobre as permissões de compartilhamento de conversas e podem alterar, atualizar ou interrompê-las a qualquer momento.
- A plataforma ainda destacou que os usuários devem ajustar suas configurações para evitar compartilhamentos indesejados. Assim, “recomendou fortemente” pedir consentimento de todos os participantes ao usar a ferramenta em reuniões.
Ferramentas ameaçam a privacidade dos usuários
O caso relatado por Alex Bilzerian também poderia acontecer com milhões de funcionários de empresas que participam de reuniões online em todo o mundo. Segundo analistas, isso é uma ameaça à privacidade.
Para Naomi Brockwell, defensora e pesquisadora do tema, “a combinação de gravação constante e transcrição alimentada por IA corrói nossa privacidade no trabalho e nos abre para ações judiciais, retaliação e segredos vazados”. Segundo ela, as pessoas ainda não entenderam o quão invasiva esta tecnologia pode ser.
Estes recursos de IA podem até mesmo captar momentos que não foram feitos para serem ouvidos. Isaac Naor, um designer de software em Los Angeles, disse que recebeu uma transcrição do Otter após uma reunião do Zoom em que uma outra participante silenciou o microfone para falar dele.
Hatim Rahman, professor associado da Kellogg School of Management da Northwestern University que estuda os efeitos da IA no trabalho, acredita que o ônus recai sobre as empresas tanto quanto sobre os usuários. Ele defende que haja “conscientização das empresas de que pessoas de diferentes idades e habilidades tecnológicas usarão esses produtos”.