Pesquisa da USP apontou que cerca de 20% da população teve aumento de peso no último ano
O isolamento social, embora de suma importância para conter a disseminação do coronavírus, teve muitos impactos negativos na saúde da população. Um desses prejuízos foi o ganho de peso. Isso porque os quilos extras podem levar a lesões nos joelhos.
Para se ter uma ideia, cada quilo a mais na balança representa uma sobrecarga de 8 kg para os joelhos. Uma pesquisa realizada pelo Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP), apontou que 20% da população engordou, no mínimo, 2kg durante a pandemia.
Portanto, o risco de desenvolver problemas nos joelhos aumentou bastante em quem viu os ponteiros da balança subirem desde março de 2020.
Obesidade e dor no joelho: tudo a ver
Segundo a fisioterapeuta Walkíria Brunetti, especialista em Pilates e RPG, muitos estudos ao longo dos anos mostraram que a obesidade é uma das causas mais prevalentes das patologias que afetam os joelhos. Uma das condições mais comuns é a condromalácia patelar.
Dados da Sociedade Americana de Ortopedia, apontam que cerca de 40% dos problemas nos joelhos estão associados ao desgaste da cartilagem patelar.
O que é condromalácia patelar?
“A condromalácia patelar se caracteriza pelo amolecimento seguido da fragmentação da cartilagem articular. Isso ocorre como resultado de mudanças no mecanismo de extensão dos joelhos. Basicamente, a patela começa a deslizar lateralmente em vez de deslizar para cima e para baixo”, explica Walkíria.
É importante explicar que patela é nome médico que se dá, atualmente, para a rótula. A patela é um dos ossos que formam a articulação dos joelhos. Esse osso possui duas importantes funções. A flexão e a extensão dos joelhos.
“Vale ressaltar que a patela que previne o atrito da musculatura do joelho com o fêmur, por meio do movimento do deslize. Um bom exemplo é que podemos senti-la ir e voltar quando dobramos as pernas”, cita Walkíria.
Por que o peso extra é perigoso?
O sobrepeso e a obesidade alteram a biomecânica do joelho. Isso quer dizer que o peso extra pode alterar o escorregamento da patela.
“Caso isso ocorra, haverá um atrito da cartilagem patelar com a cartilagem interna do fêmur. Com o tempo, instale-se um processo de degeneração articular”, comenta a especialista.
Elas sofrem mais
As mulheres costumam ser mais afetadas que os homens devido à estrutura óssea do quadril feminino. Os outros fatores de risco são esportes de alto impacto, como treinos de crossfit e corridas.
“O segredo para os atletas e para aqueles que praticam atividades físicas mais intensas, é o fortalecimento da musculatura dos membros inferiores, de acordo com Walkíria.
Sobe e desce
“Um sinal de alerta para a condromalácia patelar é a dor no joelho no momento de subir ou de descer escadas. Dor ao levantar-se de assentos ou para agachar-se também é uma manifestação comum”, relata a fisioterapeuta.
Tratamento deve ser precoce
Além da dor e da redução da capacidade funcional dos joelhos, a condromalácia não tratada pode evoluir para uma osteoartrose prematura. A pior consequência, portanto, é a necessidade de colocação de uma prótese no joelho. A doença também reduz a mobilidade e a independência de forma precoce.
“Infelizmente, a lesão na cartilagem é definitiva. Por isso, é fundamental que quando a pessoa notar que o joelho dói nessas situações que falamos, procure um médico e, posteriormente, inicie um trabalho de fortalecimento músculos estabilizadores da patela’, reforça Walkíria.
Fisioterapia é a primeira escolha
Antes de fortalecer os músculos dos joelhos, é preciso tratar a dor. “Em geral, o paciente chega com muita dor. Para aliviar esse quadro, são usados aparelhos para analgesia e para reduzir o processo inflamatório”, diz.
O que poucas pessoas sabem, é que o tipo de pisada tem uma relação íntima com as dores nos joelhos. “Dependendo de como a pessoa pisa, ela pode sobrecarregar os joelhos. Isso também altera a biomecânica da articulação. “Portanto, eu também incluo no tratamento a correção da pisada”, comenta Walkíria.
A especialista aponta que as sessões de fisioterapia precisam incluir a correção e a organização da pisada para que a articulação volte ao seu equilíbrio. “A correção da pisada é feita com alongamento da fáscia plantar, da parte da frente das coxas e da parte posterior do joelho”.
Sem dúvidas, o tratamento também deve ter como foco a educação do paciente no sentido da mudança de hábitos, como perder o peso excedente e adotar posturas corretas para não prejudicar os joelhos.
“Entretanto, para quem já desenvolveu a condromalácia, é importante uma avaliação do risco benefício de realizar esportes que podem agravar o quadro, como as corridas e o crossfit”, finaliza Walkíria.