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Mal súbito de Eriksen reacende debate sobre problemas cardíacos

O mal súbito sofrido pelo meia dinamarquês Christian Eriksen na primeira rodada da Eurocopa, (12/6), chocou o mundo do esporte e reacendeu o debate sobre problemas cardíacos que acometem jogadores de futebol de forma repentina e, muitas vezes, fatal.

Com 29 anos de idade, Eriksen desmaiou subitamente no fim do primeiro tempo da partida contra a Finlândia e precisou ser ressuscitado com um desfibrilador. O meia da Inter de Milão já anunciou em suas redes sociais que está “bem”, mas passará por uma nova bateria de exames cardíacos e colocará um desfibrilador implantável para controlar sua arritmia.

O cardiologista Marcelo Leitão, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), diz, em entrevista à ANSA, que o mal súbito de Eriksen pode ter sido provocado por “alterações cardíacas estruturais congênitas”, ou seja, por um problema de nascença.

“É muito difícil apontar as causas, podemos dizer estatisticamente. Quando vemos um atleta tendo um mal súbito, temos de analisar primeiro a faixa de idade e, estatisticamente, quando um atleta sofre esse tipo de evento com menos de 35 anos, as causas mais comuns são alterações cardíacas estruturais congênitas”, explica.

No entanto, segundo Leitão, análises de necropsias de atletas que faleceram subitamente apontam que cerca de 30% deles não apresentavam “nenhuma alteração cardíaca detectável”.

“Isso nos leva a pensar na possibilidade de outras situações que podem trazer morte súbita na prática esportiva relacionadas não a alterações da estrutura do coração, mas do funcionamento, na ativação elétrica ou até de doenças genéticas, as canalopatias, que podem desencadear arritmias e levar a um quadro como esse.

Não estou dizendo que foi isso, mas é uma possibilidade”, acrescenta.

O drama vivido pelo jogador da Inter de Milão pode ser determinante para o futuro de sua carreira. O diretor da SBMEE diz que essas “graves situações habitualmente não condizem com a prática de esporte competitivo”.

Já o médico italiano Enrico Castellacci, campeão da Copa do Mundo de 2006 com a Azzurra, afirmou (17/6) à ANSA que há dúvidas sobre a possibilidade de Eriksen jogar no futebol italiano com esse desfibrilador implantável.

“Na Europa se joga com desfibrilador implantado, tem o holandês Blind, que está na Eurocopa. Mas na Itália somos muito mais cuidadosos e severos na concessão de aptidão esportiva”, explicou.

Primeiros socorros e prevenções Ainda de acordo com Leitão, o atendimento a Eriksen após seu desmaio em campo foi “extremamente bem feito”.

“O resultado que a gente tem, com o atleta saindo de campo acordado, se movimentando e com os olhos abertos, responde que o tratamento foi extremamente bem feito. É um cuidado que as entidades têm tomado ao longo dos últimos anos para que se possa atender adequadamente essas situações. Os esforços foram recompensados e recompensaram Eriksen, porque o atendimento foi impecável na minha forma de ver”, destaca.

Eriksen não foi o primeiro jogador a passar mal dentro de um campo de futebol, e outros atletas que vivenciaram uma situação semelhante não tiveram o mesmo fim, como o zagueiro Serginho, do São Caetano, e o atacante Miklós Fehér, do Benfica. Para o cardiologista, existem duas “grandes ações” para reduzir o risco de mal súbito em jogadores.

“A primeiras é fazer avaliações médicas adequadas, apropriadas e periódicas nos praticantes de esportes competitivos, para que se possa identificar situações precocemente e tratá-las ou indicar ao atleta que ele não pode praticar esportes competitivos. A segunda é saber proceder com o atendimento para que o atleta tenha uma evolução apropriada”, diz Leitão.

Segundo ele, “quando ocorre um evento como esse, todo mundo sai correndo para fazer avaliação, mas passa um, dois ou três anos, o pessoal começa a relaxar de novo” .

Eriksen, um dos principais nomes do futebol dinamarquês, é conhecido sobretudo por sua passagem pelo Tottenham e defende a Inter de Milão, atual campeã italiana, desde 2020.

Fonte: ANSA