No momento, você está visualizando Não consegue concluir cursos ou ficar em um emprego? Entenda
Muitos não permanecem em emprego por muito tempo e têm dificuldades em concluir cursos. Conheça o caso de Adailde Lourenço, 71 anos.

Não consegue concluir cursos ou ficar em um emprego? Entenda

Entenda os motivos de quem não consegue permanecer nos cursos e em um emprego fixo

Muitos não permanecem em emprego por muito tempo e tem dificuldades em concluir cursos. Assim, Adailde Lourenço, 71 anos, de São José do Rio Preto (SP), tem procurado por novos afazeres. Matriculou-se em um curso de piano e ficou apenas duas semanas.

Na sequência, tentou culinária, não deu certo, e, por último, investiu na pintura, a qual tem se dedicado em meio a altos e baixos. “Deixo pela metade muitas das telas que inicio”, conta.

Caso parecido com o de William Souza, 35, de Santos (SP). Ele não deixa telas inacabadas, mas tem dificuldade em seguir objetivos que estabelece e se manter por muito tempo fazendo alguma coisa. “No trabalho, já mudei de posto três vezes em quatro anos. Se começo a malhar, passa um mês e não vou mais. Nem terminar faxina de casa ou tratamento médico consigo.”

Adailde e William não estão sozinhos nessa. De acordo com profissionais de saúde mental, é grande a incidência de pacientes que chegam a consultórios com essas mesmas queixas. Gente que geralmente apresenta sintomas de ansiedade, insegurança, frustração ou quadros mais sérios de transtornos que desorganizam ou anulam com a vida.

Se demora muito, tchauzinho

Entre as principais causas da perda de vontade em prosseguir com um projeto qualquer está a pressa da pós-modernidade. Dessa forma, nada tende a durar muito tempo e se durar, causa tédio. Por isso, as novidades são fascinantes, até surgirem outras, rapidamente. Essa ideia se aplica a compras, mas também com empregos, cursos, passatempos, afazeres, relacionamentos.

“Pessoas que enjoam fácil não conseguem persistir no cumprimento da mesma coisa num período mais longo, preferem reforços imediatos, para que se mantenham focadas”, explica Eduardo Perin, psiquiatra pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e especialista em terapia cognitivo-comportamental pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

Segundo o médico, são pessoas que tendem a ter histórico de várias desistências e atitudes impulsivas para alcançar o que querem. Se não conseguem, partem para novos alvos, que podem ser completamente diferentes dos originais.

Quando mais jovem, William conta que mudou de faculdade duas vezes e que com poucos meses de namoro falava em casamento.

Quando envolvem patologias

A procrastinação, o ato de adiar, transferir algo constantemente para outro momento são características marcantes de quem deixa pelo caminho o que começa. Adailde diz sofrer com esse problema, sobretudo quando se sente pressionada ou insegura. “Quando fazia aula e e precisava entregar alguma tarefa ou sabia que seria avaliada, me vinha à mente desistir.”

Mas, para ser considerado patológico, deve-se observar a intensidade como os sintomas se manifestam, explica Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves e do HC (Hospital da Cidade), em Salvador. “Se for esporádico, é aceitável, faz parte da vulnerabilidade humana. Agora, contínuo, indica a necessidade de cuidados psicológicos, para evitar descontroles perigosos.”

Perin acrescenta que procrastinação mais impulsividade de alta incidência pode caracterizar TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) e, junto com oscilações de humor e ausência repentina de identificação com o que se faz, transtorno bipolar, de personalidade borderline, ou antissocial. Nesse último, estão narcisistas e psicopatas, que só pensam no hoje.

Vale tratar e trabalhar o foco

Quando se trata de distúrbios que afetam humor, raciocínio e comportamento, os prejuízos decorrentes em diferentes áreas acabam obrigando a pessoa, às vezes influenciada por entes queridos, a procurar ajuda. Para que a vida volte ao normal, especialistas em saúde mental podem indicar psicoterapia cognitivo-comportamental, bem como o uso controlado de medicamentos.

Entretanto, nem sempre a pessoa desiste de algo por doença. Yuri Busin, psicólogo e doutor em neurociência do comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, informa que muitos não sabem o valor daquilo a que se propõem. “Qualquer construção demora até ficar de pé. É fundamental compreender isso e traçar objetivos muito claros.”

Ele diz que não adianta aumentar o consumo de dopamina, neurotransmissor que ajuda a dar motivação, como está na moda, sem autorreflexão, a refletir sobre prós e contras. Tarefas de longo prazo ainda são desgastantes. “Aconselho a não tentar dar conta de várias coisas ao mesmo tempo, mas concluir uma por vez, para se ter vontade de evoluir e alcançar o que se procura.”