Análise de DNA em ossos da erupção do Monte Vesúvio revela detalhes inéditos sobre a identidade das vítimas do desastre de Pompeia
Fragmentos de ossos humanos recuperados em Pompeia, na Itália, trouxeram novos detalhes sobre as pessoas que perderam suas vidas na erupção do Monte Vesúvio, em 79 d.C, e a análise de DNA, publicada recentemente na Current Biology, desafia antigos conceitos sobre a identidade e os vínculos familiares entre as vítimas.
As amostras, portanto, foram obtidas de fragmentos ósseos contidos nos famosos moldes de gesso criados a partir das cavidades deixadas pelos corpos. Estes moldes, preenchidos com gesso líquido nas escavações realizadas desde o século XVIII, preservam traços das pessoas que morreram durante o evento catastrófico, e muitos ainda contêm ossos das vítimas.
Em um projeto recente para restaurar 86 desses moldes, os pesquisadores conseguiram coletar fragmentos de cinco indivíduos e extrair seus genomas, completos ou parciais.
Revelações genéticas surpreendentes das vítimas da erupção do Monte Vesúvio
- Os resultados do estudo revelaram que todos os cinco indivíduos eram do sexo masculino;
- Isso foi fundamental para desmentir uma narrativa antiga que atribuía gênero feminino a um dos corpos, devido a um elaborado bracelete de ouro em um dos braços. Assim, levou à interpretação de que o indivíduo seria uma mãe que falecera com o filho nos braços;
- A análise genética revelou, no entanto, que esse indivíduo era um homem e não possuía nenhum vínculo familiar com a criança que carregava;
- Segundo David Caramelli, antropólogo da Universidade de Florença e coautor do estudo, essa descoberta demonstra o potencial do DNA para “reescrever a história, ou as histórias de um grupo particular de indivíduos”;
- Outro mito desfeito foi o de duas figuras encontradas em um suposto abraço, antes interpretadas como irmãs ou mãe e filha;
- A análise genética indica que pelo menos uma das figuras era do sexo masculino, contradizendo as interpretações anteriores baseadas em observações visuais e circunstanciais.
Novos olhares sobre as relações e diversidade em Pompeia
De acordo com o arqueólogo Steven Ellis, da Universidade de Cincinnati, grande parte das narrativas que envolvem os moldes de Pompeia, são simplificações destinadas a atrair o interesse público, sem respaldo científico detalhado. Ele ressalta que essas figuras em gesso são um símbolo poderoso da tragédia que assola a história de Pompeia. Embora suas interpretações anteriores sejam imprecisas.
A análise genética trouxe à tona outra informação importante: a população de Pompeia era composta por pessoas geneticamente diversas. Com descendentes de imigrantes da região leste do Mediterrâneo. “Sabíamos disso pelas joias que usavam, pelos cultos que seguiam e pelas decorações nas casas”, afirma Ellis.
Contudo, a confirmação através do DNA diretamente dos moldes corporais reforça esta visão. Dessa maneira, fornece evidências mais sólidas sobre a composição cultural e genética da antiga cidade.