A série da HBO Max, sem querer, colocou holofotes nos condenados
O que faz, em uma semana, mais de 25 mil pessoas seguirem Guilherme de Pádua no Instagram. Isso começou, desde que a série documental “Pacto Brutal” estreou na HBO Max. Aliás, a mesma conta a história do assassinato de Daniella Perez (1970-1992), que voltou à discussão em todo o país. Jovens, que não conheciam o caso, passaram a destrinchá-lo.
Pessoas com mais de 35 anos tiveram ativadas memórias de uma época em que o país parou. A série da HBO Max, no entanto, trouxe uma consequência mórbida: sem querer, colocou holofotes nos condenados pela Justiça pela morte da atriz. Oito mil deles em menos de dois dias. No momento em que este texto está sendo escrito, o ex-ator conta com 52,3 mil seguidores.
Oito mil deles em menos de dois dias. No momento em que este texto está sendo escrito, o ex-ator conta com 52,3 mil seguidores. Impossível não questionar o que leva alguém a assinar o perfil de alguém condenado por assassinar com 18 punhaladas uma garota de 22 anos. O que poderia Guilherme de Pádua revelar de novo sobre um caso que já foi julgado e encerrado pela Justiça? O que poderia ele oferecer sobre essa história sendo que há longas entrevistas com ele espalhadas pelo YouTube? Não faltam detalhes sobre o processo – finalizado – na internet.
Falta o entendimento de que seguirem tais pessoas, como Pádua no Instagram, é uma declaração de afinidade
Anteriormente o feed do ex-ator estava disponível para todos verem. E depois foi fechado como estratégia para evitar hate – ou aguçar curiosidade? – e ele tem liberado individualmente cada um dos novos seguidores. Guilherme não é caso isolado. Guilherme de Pádua não foi o único que ganhou milhares de pessoas que passaram a seguir o mesmo no Instagram. Sobretudo, após a recente exposição do crime nas telas. Como por exemplo, o caso do anestesiologista Giovani Quintela Bezerra, que foi flagrado abusando de uma paciente grávida durante o parto. Assim, ganhou mais de 11 mil seguidores após o caso vir à tona.
A desculpa de quem assina o feed de criminosos é ver eventuais novas publicações. Isso não se aplica. Dá para ver o que está nos perfis sem necessariamente seguir. Da mesma maneira, casos de grande repercussão como esses contam com atualizações constantes. Acredite: esse tipo de informação chegará a todos mesmo sem apertar um botão de follow. Não se trata, no entanto, de uma simples questão de não saber usar o aplicativo. Falta o entendimento a essas pessoas de que seguirem alguém é uma declaração de afinidade – exceto em caso de questões de trabalho.
Há uma expressão alemã, chamada “schadenfreude”, que fala sobre pessoas que sentem prazer com o fracasso ou tragédia alheia. Aqui, nesse caso, o perigo é outro: é inverter o papel de algoz e vítima. Fazer com que acusados ou condenados por crimes bárbaros pareçam celebridades é uma maneira de ser leniente com seus atos.
De alguma maneira, o que fica sinalizado é que há, entretanto, um suposto alinhamento de valores com essas pessoas. Especialmente em um tempo em que seguidores e engajamento significam dinheiro e influência. Enfim, essa reflexão precisa ser feita urgentemente.