Não existe melhor treino para a vida do que o brincar
Ainda bem que as brincadeiras trazem muitos benefícios para o cérebro das crianças. Pois não existe melhor treino para a vida do que o brincar. Afinal, são nesses momentos que o seu filho vai experimentar o mundo ao redor, seja testando habilidades, simulando conflitos, seja internalizando regras. “Antes de ser capaz de escrever, a criança precisa treinar a motricidade fina, só para citar um exemplo. Como desenvolver essa habilidade? Brincando de massinha, de pintura, de empilhar blocos…”, afirma a educadora Luciane Motta, diretora da Casa do Brincar (SP).
A brincadeira também é crucial para a socialização, no entanto, ela ficou comprometida durante a quarentena da covid-19. Isabel, por exemplo, tinha 1 ano e 9 meses quando a pandemia começou, em março de 2020, “bem na época em que ela tinha recém entrado na escola, nos isolamos”, lembra a empresária Elisa França, mãe da menina.
Ela conta ainda que passados dois anos, a filha teve dificuldade para se adaptar na volta às aulas. “Não sei se foi só por causa do confinamento, acho que ela é mais tímida mesmo. Enquanto que a irmã Vitória, de 1 ano e meio, nasceu durante a pandemia e sempre foi muito expansiva”, diz. Elisa está respeitando o tempo da filha mais velha, atualmente com 4 anos, sem neuras. “Nas aulas de natação, ao menos, ela já ganhou confiança de novo”, comemora.
Por falar nisso, o movimento, tanto dos esportes quanto das brincadeiras, é um grande aliado do cérebro. “A explicação está na série de substâncias benéficas liberadas pelo órgão durante as atividades físicas”, diz o neuropediatra Farias, do Hospital Pequeno Príncipe. Entre elas, a endorfina, hormônio utilizado na comunicação entre os neurônios.
Menos telas
Infelizmente, tanto a socialização quanto as atividades físicas e, principalmente o sono, estão competindo com as telas hoje em dia. A regra é clara: a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orienta que, até os 2 anos, a criança não tenha contato com telas (a não ser em chamadas de vídeo). Entre 3 e 5 anos, elas podem ser usadas por até uma hora por dia. Enquanto de 6 a 10 anos, até duas, com supervisão e jamais durante as refeições.
Levando-se em conta os inúmeros prejuízos causados pelo excesso das telas, é preciso equilibrá-las com outros estímulos. Uma pesquisa liderada pela Universidade de Oslo (Noruega), avaliou cerca de 2 mil crianças de 13 países com idades entre 8 e 36 meses. Assim se observou que aquelas menos expostas passivamente às telas e cujos cuidadores tinham o hábito de ler mais para elas, apresentaram maiores ganhos de vocabulário durante o lockdown (entre março e dezembro de 2020).
A fotógrafa e influenciadora digital Morgana Secco, mãe de Alice de 3 anos, que ficou famosa na internet como a menina das “palavras difíceis”, seguiu à risca as recomendações da SBP. “Não podemos atribuir o desenvolvimento dela somente a esse fator. Pois as predisposições dela e o ambiente que proporcionamos também influenciaram. Mas o não uso de telas aumentou o contato dela conosco, o que possibilitou a aquisição de outros hábitos mais saudáveis, como o da leitura, por exemplo, e isso certamente é positivo”, avalia a mãe de Alice.