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No final do processo de cultivo em laboratório, são obtidos produtos, que não são alimentos vegetarianos e imitam o sabor da carne ou frango

Carne criada em laboratório é liberada para consumo

Está se tornando realidade no mundo e não envolve abate de animais

Duas empresas já podem vender produtos de carne de frango cultivados em laboratório. Uma década de avanços científicos ocorreu desde que o primeiro hambúrguer com cultivo “in vitro”. Quando apresentaram ao mundo por intermédio de uma equipe da Universidade de Maastricht, nos Países Baixos.

Agora, a novidade é que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) autorizou duas empresas a venderem produtos de carne de frango cultivados em laboratório.

Estamos provavelmente testemunhando uma nova era na alimentação. Como por exemplo, os hambúrgueres, bifes e nuggets feitos a partir de células que crescem em um recipiente. Ao invés de serem obtidas através da criação e abate de animais vivos, esses novos produtos são de origem carnívora. Portanto, não se trata de substitutos vegetais que imitam o sabor da carne ou do frango.

“O mundo está passando por uma revolução alimentar”

Nesse sentido, as autoridades americanas deram aval a duas empresas – Upside Foods e Good Meat. Elas competiam para ser as primeiras do ramo nos EUA. Para comercializarem assim, a carne de frango cultivada em laboratório. Entretanto, os produtos dessas empresas são produzidos a partir de células animais, desenvolvidas artificialmente em uma planta de produção. Ou seja, longe de fazendas e áreas extensas de pastagem.

Durante o processo de fabricação, as células-tronco de um animal saudável previamente selecionado, são cultivadas a uma temperatura específica em um biorreator. Com um soro rico em nutrientes que impulsiona o crescimento celular.

“O mundo está passando por uma revolução alimentar. Por isso, a FDA (Food and Drug Administration) está comprometida em apoiar a inovação no fornecimento de alimentos”, afirmou a agência reguladora. Isso aconteceu no comunicado em novembro do ano passado, quando considerou que a carne cultivada em laboratório da Upside Foods era segura para consumo humano. Em março deste ano, a agência reguladora emitiu uma declaração semelhante em relação aos produtos de origem carnívora in vitro da Good Meat.

Como se faz a carne cultivada em laboratório?

Cria-se a carne de laboratório em biorreatores, que são tanques de aço com a denominação de cultivadores. Neles, introduzem células-tronco provenientes de um animal vivo, um óvulo fecundado ou então um banco especial de células armazenadas.

Depois de selecionar as células, elas se combinam no biorreator com um soro específico que atua como meio de cultura. Uma mistura semelhante a um caldo que inclui aminoácidos, ácidos graxos, açúcares, sais, vitaminas e outros elementos necessários para o crescimento celular. Dessa forma, recria-se artificialmente o ambiente que fornece às células os nutrientes necessários para evolução e multiplicação.

No final do processo de cultivo em laboratório, obtêm-se produtos de carne, que não são alimentos vegetarianos. Muito menos, substitutos vegetais que imitam o sabor da carne ou do frango.

No caso da Upside Foods, as células musculares e do tecido conjuntivo crescem juntas, formando grandes lâminas. Após duas ou três semanas nos biorreatores, retiram-se as lâminas de células avícolas retiradas dos tanques e transformadas em bifes, salsichas ou outros alimentos. Na Good Meat, que já vende carne cultivada em Singapura desde dezembro de 2020, se moldam as grandes massas de células de frango para obter costeletas, nuggets e carne desfiada.

Onde a carne cultivada estará disponível?

Em uma primeira etapa, as empresas planejam servir os novos alimentos primeiro em restaurantes exclusivos. A Upside Foods se associou a um restaurante em San Francisco chamado Bar Crenn. Enquanto os pratos da Good Meat estarão à disposição em um restaurante em Washington DC, dirigido pelo chef espanhol José Andrés.

Uma nova era na alimentação

Um dos grandes benefícios desses produtos é eliminar os danos aos animais. Assim, reduz drasticamente o impacto ambiental da pecuária, a quantidade de água utilizada e os resíduos animais. Esse método de produção pode gerar carne sem a necessidade de criar e abater um grande número de animais. Portanto, tem o potencial de aumentar o bem-estar animal.

É importante destacar que a carne cultivada em laboratório não é necessariamente mais saudável do que a carne tradicional. São produtos que se desenvolveram a partir do cultivo de células animais. E não através da criação e abate tradicional de animais vivos. Contudo, ainda é preciso saber os detalhes sobre os componentes nutricionais e sua combinação (proteínas, gorduras, aditivos e conservantes). De acordo com dados levantados pela agência AP, mais de 150 empresas em todo o mundo estão focadas em produtos desse tipo.

Amy Chen, diretora de operações da Upside, afirmou que muitos consumidores mostram-se céticos. Até mesmo apreensivos, em relação à ideia de comer carne de frango cultivada a partir de células. Ela chamou isso de “fator nojo”.

Uma pesquisa recente da Associated Press-NORC Center for Public Affairs Research refletiu essa opinião. Metade dos adultos americanos mostraram-se relutantes em experimentar carne obtida a partir de células animais. Quando a explicar o motivo de sua relutância, a maioria dos que disseram ser improvável que experimentassem a carne cultivada mencionaram que “parece estranho”.