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O uso frequente de celular e tablet para acalmar uma criança de três a cinco anos está associado ao aumento da desregulação emocional 

Como celular pode afetar comportamento da criança para sempre

Essa estratégia calmante pode estar ligada a piores desafios de comportamento no futuro

A ciência investiga há algum tempo, o quanto a tecnologia e o celular, podem afetar o comportamento de uma criança. Incluindo bebês e pessoas de um modo geral. Agora, pesquisadores da Universidade de Michigan Medicine (EUA) fizeram uma descoberta importante. Descobriram que o uso frequente de smartphones e tablets para acalmar crianças de três a cinco anos está associado ao aumento da desregulação emocional até se tornarem adultos.

Quando os pais estão preparando o jantar, ou estão em um telefonema ou fazendo outra coisa que demande atenção, os filhos apresentam um comportamento estranho. Como se estivessem em colapso.

Às vezes, entregar um aparelho a uma criança em idade pré-escolar exigente parece oferecer uma solução rápida. No entanto, dizem os cientistas, essa estratégia calmante pode estar ligada a piores desafios de comportamento no futuro. As conclusões do estudo tiveram publicação na segunda (12), em um estudo na revista científica JAMA Pediatrics.

A principal autora do estudo, Jenny Radesky, pediatra comportamental do Hospital Infantil CS Mott da Universidade de Michigan, fez uma declaração importante. Ela disse em um comunicado que “particularmente na primeira infância, os celulares podem deslocar as oportunidades de desenvolvimento de métodos independentes e alternativos de autorregulação”.

Sinais de aumento da desregulação podem incluir mudanças rápidas entre tristeza animação, uma mudança repentina de humor ou sentimentos e impulsividade aumentada.

Efeitos a longo prazo do uso de celular por criança

O estudo se deu com 422 pais e 422 crianças de três a cinco anos. Os grupos foram selecionados entre agosto de 2018 e janeiro de 2020, antes do início da pandemia de covid-19. Os pesquisadores analisaram as respostas dos pais e cuidadores à frequência com que as crianças usaram eletrônicos como uma ferramenta calmante. Eles notaram associações a sintomas de reatividade emocional ou desregulação durante um período de seis meses.

Nas análises, os resultados sugerem que a associação entre o uso calmante de tecnologia e consequências emocionais foi particularmente alta entre meninos e crianças que já sentem hiperatividade, impulsividade e, além disso, um temperamento forte. Pois eles se tornaram mais propensos a reagir intensamente a sentimentos como raiva, frustração e tristeza.

Radesky afirma que para os pais, o uso de aparelhos reduz de forma rápida e eficaz os comportamentos negativos e desafiadores das crianças. “Pode tornar ainda mais tentador usar aparelhos como estratégia parental”, destacou.

No entanto, ela aponta que o hábito de usar celulares para lidar com comportamentos difíceis se fortalece com o tempo. Ou seja, à medida que as demandas de mídia das crianças também se fortalecem. Quanto mais os celulares são usados, menos as crianças — e seus pais — conseguem usar outras estratégias de enfrentamento.

Por outro lado, usar um distrator como um celular não ensina uma habilidade (motora, de memória, etc). Apenas distrai a criança de como ela está se sentindo. As crianças que não desenvolvem capacidades na primeira infância têm mais probabilidade de ter dificuldades. Sobretudo, quando estressadas na escola ou com os colegas à medida que envelhecem, disse a pesquisadora.

Dosagem certa

De acordo com o estudo, há momentos em que os pais podem usar aparelhos estrategicamente para distrair as crianças. Por exemplo, durante viagens ou multitarefas no trabalho, o uso ocasional de mídia para ocupar as crianças tem que ser realista, para que não se torne uma ferramenta calmante primária ou regular.

Outro ponto da pesquisa é que os pais e responsáveis também podem evitar acessos de raiva relacionados à tecnologia. Definindo então um tempo de uso, dando à criança expectativas claras de quando e onde o celular pode ser usado. Ou priorizar apps ou serviços de vídeo que tenham pontos de parada claros. E que não apenas reproduzam conteúdos automaticamente ou deixem a criança continuar rolando (como as redes sociais).

“É preciso repetição por um cuidador que também precisa tentar manter a calma e não reagir exageradamente às emoções da criança. Desse modo, ajuda a desenvolver habilidades de regulação emocional que duram a vida toda”, disse Radesky.