De acordo com dados do IBGE mostram que a proporção de jovens de 16 e 17 anos sem título de eleitor caiu 34,4% nos últimos 18 anos
A menos de um mês para o dia 4 de maio, quando termina o prazo para emissão do título de eleitor, pouco mais de 1 milhão de jovens de 16 e 17 anos se cadastraram para votar. Isso representa menos de 1 a cada 5 adolescentes dessa faixa etária no país.
Em comparação com março de 2018, a queda é de 32%. Ela chega a 60% quando observado o número de adolescentes que se registraram para participar no pleito de 2004. Naquele ano, eles chegavam a 2,3% do eleitorado, fatia que diminui desde então e pode ficar abaixo de 1% pela primeira vez.
O voto no Brasil é obrigatório a partir dos 18 anos. Para quem tem mais de 16 anos o voto é facultativo, assim como é para maiores de 70 anos e analfabetos. Quem tem 15 anos, mas faz aniversário até a data do primeiro turno, marcado para 2 de outubro, também pode fazer o cadastramento. Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que há vários fatores que contribuem para a baixa participação registrada até o momento.
Entre eles está o envelhecimento da população brasileira. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a proporção de jovens de 16 e 17 anos sem o título de eleitor caiu 34,4% nos últimos 18 anos.
Taxa de fecundidade diminuiu no início dos anos 1970
Doutor em demografia e pesquisador aposentado do instituto, José Eustáquio Alves Diniz explica que esse movimento é observado desde a década de 1990. Ou seja, com a queda da taxa de fecundidade a partir do início dos anos 1970, e que a tendência é de diminuição da proporção de jovens entre os brasileiros. Mesmo assim, a queda no cadastro eleitoral nessa faixa etária é mais rápida.
“É uma conjugação de dois fatores: o fator demográfico, porque está diminuindo o número de jovens no Brasil. E o político, porque está diminuindo o número de interessados em participar das eleições no Brasil”, diz ele. Ainda assim, destaca que o maior peso no eleitorado é das mulheres acima de 30 anos.
Analista de enfrentamento à desinformação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Diogo Cruvinel observa dois motivos. Além do aspecto demográfico, a pandemia da Covid-19 também prejudicou o desenvolvimento de ações educativas. “A Justiça Eleitoral, ao longo dos anos, sempre fez campanhas nas escolas justamente com a intenção de incentivar o alistamento desses jovens. Com a pandemia, as aulas presenciais foram suspensas nos últimos dois anos e isso pode ter influenciado nessa queda”, diz.
Desencontro entre o discurso de partidos e pré-candidatos
Cruvinel destaca ainda o perfil da eleição, pois a participação da população, de forma geral, costuma ser maior nas eleições locais. Isto é, quando são definidos prefeitos e vereadores, a política está mais próxima e as pessoas estão mais envolvidas.
Para cientistas políticos, há ainda o fator do desencontro entre o discurso de partidos e pré-candidatos e aquilo que preocupa o eleitor dessa faixa etária.
“Esse público é muito simpático a causas que dizem respeito à defesa de minorias, políticas de diversidade sexual, uma agenda voltada à questão ambiental. Tais assuntos não são muito palatáveis para muitos partidos políticos”, afirma Eduardo Grin, cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas.
Ele destaca que entre o público jovem há a percepção de que a política partidária não tem sido a melhor via para buscar soluções coletivas. A incapacidade de modernização dos partidos para falar com essa faixa etária é um dos motivos para a queda. Bem como o aumento da polarização ao longo do governo Bolsonaro também são outros pontos que afastam o eleitor. “O jovem pensa que, se a política é essa coisa odiosa, isso não me interessa e vou buscar outros caminhos para atuar na esfera política”, diz.
TSE promove campanhas para engajar os jovens
Diretora do Movimento Voto Consciente, que até a pandemia desenvolvia ações de conscientização política em escolas da rede pública; a cientista política Joyce Luz diz que falta ensino sobre o tema. É necessário que os jovens compreendam como a política está presente na vida deles e qual a importância do voto. “O que chega até o jovem são as notícias sobre polarização, brigas, disputas políticas, que são consequências de uma estrutura”, diz.
“Quando você aproxima o jovem da realidade política e insere ele dentro de ações que fazem parte do cotidiano dele, ele passa a se interessar”. A cientista política cita exemplos de diálogos que teve com estudantes em sala de aula sobre a falta de professores nas escolas públicas. Ainda discutiu o papel dos eleitos para resolver a questão.
Em março, o TSE promoveu a semana do Jovem Eleitor, com tuitaço com a hashtag #RolêdasEleições. Assim teve adesões espontâneas de artistas e jogadores de futebol. Ao mesmo tempo, a cantora Anitta, a ex-BBB Juliette Freire e o ator americano Mark Ruffalo usaram as redes sociais para incentivar os adolescentes.
A mobilização teve efeito, e o número de títulos emitidos cresceu quase 26% em comparação a fevereiro. Como resultado, cerca de 835 mil jovens de 16 e 17 anos se cadastraram.
Fonte: Amazonasatual