Juntos, podemos fazer a diferença e impedir esta catástrofe ambiental/ecológica, em todos os níveis e territórios, começando pela realidade que nos cerca
A ecologia tem o foco de atenção de todo o mundo. Em uma entrevista coletiva, em fevereiro deste ano (2021), o Secretário Geral da ONU, António Guterres, quando do lançamento do Relatório da UNEP – Programa da ONU para o Desenvolvimento e Meio Ambiente, assim se manifestou sobre a gravidade da crise ambiental atual “Acho que 2021 é um ano do tudo ou nada”, indicando que o mundo vive três crises ambientais simultâneas – a climática, a de biodiversidade e a de poluição.
Na mesma entrevista disse também o Secretário Geral da ONU. “Não é tarde demais, mas temos de ter certeza de que somos capazes de não apenas criar as condições para uma redução drástica de emissões nesta década, tornando possível conter o aumento da temperatura em 1.5 graus; este é o ano em que temos de ter um novo marco para preservar a biodiversidade, este é o ano em que temos de tomar um número importante de medidas para reduzir a poluição”, afirmou Guterres.
“É mesmo um ano de ‘ou vai ou racha’, porque o risco de as coisas ficarem irreversíveis está aumentando a cada ano. Desse modo, requer uma mudança de mentalidade”, concluiu António Guterres.
As causas da crise ambiental e da emergência climática que esta tornando a vida no planeta são inúmeras, desde o consumismo, o desperdício, as queimadas, o desmatamento, a falta de saneamento básico, a transformação de córregos, rios, baias e os oceanos em verdadeiros esgotos a céu aberto, a poluição do ar, das águas, a degradação dos solos e a geração acelerada de resíduos sólidos, dentre as mais visíveis.
Crise humanitária e ecologia
As consequências todos notamos, observamos e sofremos, como a proliferação de doenças e de pandemias, a fome, a miséria, o aumento das catástrofes naturais, muitas das quais decorrentes da ação humana e o deslocamento forçado de milhões de pessoas ao redor do mundo, gerando uma verdadeira crise humanitária.
As ações para revertermos este Quadro terrível são de responsabilidade tanto de instituições governamentais em todos os níveis (nacional, regional/estadual e local), bem como de empresários, lideranças e entidades representativas dos vários segmentos da sociedade civil, incluindo lideres religiosos e Igrejas.
Há mais de um ano venho tentando estimular e colocar na pauta das rodas de conversa, em reuniões e seminários relacionados com a Igreja Católica e outras Etnidades, em programas radiofônicos ou virtuais. Também tenho escrito alguns artigos/reflexões sobre a importância da analise da crise ambiental contemporânea/atual e da necessidade da estruturação da PASTORAL DA ECOLOGIA INTEGRAL, em Arquidioceses, Dioceses, Paróquias e Comunidades Católicas, tendo por base o conteúdo da Encíclica Laudato Si, outros chamados/exortações do Papa Francisco e diversos estudiosos que demonstram a importância e a necessidade de a Igreja. Essa, também estar presente não apenas neste debate, mas, primordialmente apresentar saídas para esta crise ambiental/ecológica, escudada em princípios bíblicos/evangélicos e da Doutrina Social da Igreja.
Ecologia: iniciativas e missão
O Padre José Carlos Pereira, coautor, juntamente com Rodrigo Cerqueira do Nascimento Borba, do Livro “Pastoral da Ecologia e do Meio Ambiente” (Edições CNBB – 2016), enfatizam que “Uma Pastoral da Ecologia não “e uma invenção da Igreja, mas algo emergencial. Se a Igreja não tomar iniciativas práticas nesta questão, estará se omitindo na sua missão em defesa da vida”.
Nesta mesma linha de reflexão Érica Daiane Mauri e Luiz Alexandre Solano Rossi, autores do Livro Catequese e Ecologia ( Edição Paulus, 2919) assim enfatizam “ A superação da crise socioambiental transpõe a mera promoção de ações desintegradas que visam a preservação ou recuperação ambiental, ou mesmo a aplicação de uma nova tecnologia menos invasiva ou poluente.
É necessária uma nova forma de auto-compreensão do ser humano junto `a criação, capaz de ressignificar a sua existência e promover as transformações necessárias em prol de uma nova sociedade integrada – homem e criação”. É o que constantemente tem enfatizado o Papa Francisco quando fala em relação aos “pecados ecológicos” e à necessidade de uma “conversão ecológica” ou da “espiritualidade ecológica”.
Nesta breve caminhada que estamos tentando empreender, constata-se que nesta vasta região que é o Centro Oeste, compreendendo os Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal, com uma área de 1,61 milhão de e uma população de 14,1 milhão de habitantes, dos quais 88% vivem nas cidades, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2020).
Queimadas e desmatamentos
Não existe nenhuma PASTORAL DA ECOLOGIA INTEGRAL apesar de que esses estados integram três biomas, dos seis existentes no Brasil, o PANTANAL, o CERRADO e a AMAZÔNIA, que há anos vem passando por um grande processo de degradação ambiental e destruição de uma rica biodiversidade. Principalmente pelas queimadas, desmatamento legal ou ilegal, pouco importa, que ano após anos tem batido recordes históricos, além do avanço da chamada agricultura moderna que usa e abusa dos agrotóxicos, contaminando e degradando os cursos d’água e provocando erosão dos solos. Aumentando, também, a poluição e a produção de gases de efeito estufa, principal causa do aquecimento global.
Além desses problemas ambientais graves, também observamos o agravamento dos conflitos no campo, principalmente afetando populações e povos indígenas, pequenos agricultores, quilombolas, com ameaças aos seus territórios, `as suas culturas e estilo de vida (o Bem Viver).
Ecologia, impactos ambientais e cultura
Outros problemas como a construção de grandes barragens e também PCHs – Pequenas Centrais Hidrelétricas tem provocado grandes e sérios impactos ambientais, com deslocamentos forçados de populações e alteração do curso de rios, afetando a pesca e caça, forma básica da forma de vida, de subsistência e da cultura desses povos tradicionais.
Além dos problemas relacionados com a posse e uso da terra, decorrentes, inclusive de grilagem e da mineração/garimpos, com a degradação e destruição da biodiversidade e dos ecossistemas, também são constatados inúmeros problemas ambientais urbanos, que, considerando o processo acelerado da urbanização desta região, com mais de 88% de sua população vivendo no meio urbano, concluímos que estamos diante de inúmeros e graves/complexos desafios ambientais/ecológicos, inclusive os decorrentes do aquecimento global e das emergências climáticas.
Tudo isto forma um quadro ou um mosaico em que todas as instituições públicas e não governamentais devem agir, enquanto é tempo e, assim, quer nos parecer, que a Igreja Católica e também as demais Igrejas não podem estar alheias. Elas não podem se omitir para atuar, de forma permanente e organicamente articuladas para nuclear pessoas que sejam ou estejam consciente, como diz o Papa Francisco, caso tenham passado por um processo de CONVERSÃO ECOLÓGICA, tanto leigos, leigas, quanto religiosos, religiosas e as autoridades eclesiásticas, possam contribuir para este despertar ecológico.
Isto é a missão fundamental da PASTORAL DA ECOLOGIA INTEGRAL. Assim, existem muitas frentes de atuação que dependem da realidade de cada localidade, mas sempre com a visão da globalidade da crise ambiental e da emergência climática em que estamos vivendo. Conforme inúmeros estudos e relatos de cientistas, universidades , centros de pesquisa e a própria ONU/UNEP/FAO/CEPAL e, principalmente diversos pronunciamentos do Secretário Geral da ONU António Guterres, recentemente na reunião dos líderes do G7, que este é o maior desafio mundial do momento, maior e pior, em consequências do que as decorrentes da pandemia do coronavírus/COVID-19.
Se você, leitor, considera que esses DESAFIOS ECOLÓGICOS são importantes, graves e impostergáveis e acha que pode juntar-se a nós, será bem vindo, mantenha contato e poderemos somar nossos esforços e aprofundar nossas reflexões e acelerar esta caminhada para evitar que esta CATÁSTROFE ANUNCIADA, possa deixar um legado de destruição, sofrimento e morte, seja a nível local, nacional ou mundial/planetário, para as próximas gerações, o que muitos denominam de uma “herança maldita” ou um enorme e impagável passivo ambiental, enquanto uma minoria aufere lucros imediatos, pouco se importando com as consequências deste modelo econômico, social e político predatório! Precisamos mudar este modelo de economia que gera morte, por outro que respeite o meio ambiente e gere vida e bem estar para todos.
Juntos, podemos fazer a diferença e impedir esta catástrofe ambiental/ecológica, em todos os níveis e territórios, começando pela realidade que nos cerca, ou seja, onde vivemos: nossa paroquia, nossa comunidade e nosso município ou cidade.
Omitir-se diante da degradação dos ecossistemas e dos crimes ambientais é uma forma de aliar-se `as forças e grupos que estão destruindo o meio ambiente e o planeta! Pense nisso!
JUACY DA SILVA, professor universitário, aposentado UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia. Email profjuacy@yahoo.com.br