A doença cardiovascular é uma das principais causas de morte na América do Norte
O diagnóstico precoce de doença cardiovascular melhora as chances de sucesso do tratamento. Pensando nisso, cientistas da Mount Royal University, no Canadá, desenvolveram uma forma prática e inusitada de identificar problemas de saúde relacionados ao coração. E ainda mais, quando eles estão no começo: por um simples enxague bucal. Detalharam essa ideia na edição da sexta-feira (18) da revista Frontiers in Oral Health.
“O teste de enxágue bucal pode ser útil em seu checape anual tanto no médico quanto no dentista. É fácil de implementar como uma ferramenta de medição de inflamação oral em qualquer clínica”, sugere Michael Glogauer, coautor do estudo e membro da Universidade de Toronto, também no Canadá.
No ensaio, os pesquisadores decidiram verificar a relação entre uma inflamação comum na boca e o diagnóstico cardiovascular. Escolheram apostar no exame bucal para analisar se os níveis de glóbulos brancos — um indicador da saúde gengival — na saliva de adultos saudáveis poderiam estar ligados a sinais de alerta para doenças cardiovasculares.
Os resultados mostraram que altos níveis dessa célula de defesa estavam interligados a um indicador precoce de saúde arterial comprometida: a dilatação mediada por fluxo. “Mesmo em jovens adultos saudáveis, baixos níveis de carga inflamatória oral podem ter impacto na saúde cardiovascular. Uma das principais causas de morte na América do Norte”, enfatiza, em nota, Trevor King, cientista da Mount Royal e um dos autores do estudo.
Alguns dos riscos associados à saúde bucal incluem diabetes
Ilana Marques, odontologista da IGM Odontopediatria, em Brasília, explica que inflamações na gengiva podem levar à periodontite. Condição essa, que a ciência já relaciona, no entanto, a doenças cardiovasculares. “A inflamação crônica causada pela doença periodontal pode liberar mediadores inflamatórios na corrente sanguínea. Eles contribuem para o desenvolvimento e progressão de doenças cardiovasculares”, detalha.
Segundo a especialista, várias outras condições de saúde têm associação com a saúde bucal inadequada. “A boca é uma porta de entrada para o corpo, e problemas na cavidade oral podem ter impactos em várias áreas da saúde. Alguns dos riscos associados à saúde bucal incluem diabetes, complicações na gravidez e problemas respiratórios”, lista.
Ker-Yung Hong, primeiro autor do artigo, acredita que novas complicações deverão ser associadas. “Estamos começando a ver mais relações entre a saúde bucal e o risco de doenças cardiovasculares. Se notarmos que isso pode ter um impacto no risco de desenvolver problemas para o coração, mesmo em indivíduos jovens e saudáveis, essa abordagem pode ser implementada ainda mais cedo”, pontua, em nota, o também estudante da Western Ontario.
Glóbulos brancos
Para o estudo, a equipe avaliou 28 jovens saudáveis, sem problemas periodontais diagnosticados, ou seja, não fumantes, com idade entre 18 e 30 anos. Além disso, não usavam medicamentos que afetassem o risco cardiovascular. Antes de visitar o laboratório para o experimento, os voluntários receberam a orientação de fazer jejum por seis horas, podendo ingerir somente água.
Ao chegar ao local da pesquisa, os participantes enxaguaram a boca com água. Em seguida, repetiram a ação usando soro fisiológico e realizou-se a coleta para análise. Após essa primeira etapa, os voluntários foram submetidos a um eletrocardiograma e tiveram a pressão arterial aferida.