Narrativas dramáticas a partir de eventos vindos de livros de história
Em 1814, as irmãs britânicas Jane e Anna Maria Porter, experimentavam o auge da fama na literatura. Elas tinham quase 30 anos e moravam juntas. As escritoras haviam publicado 17 livros, vários deles sendo sucessos internacionais.
Jane e Anna Maria, as Misses Porter, carregam a fama de terem criado o romance histórico. Um tipo de livro que cria narrativas dramáticas a partir de eventos vindos de livros de história. Dentre estas obras, estão Thaddeus of Warsaw (1803), de Jane, e The Hungarian Brothers (1807), de Anna Maria. Seus livros misturavam pois personagens reais e inventados e, sendo assim, eram cobertos de uma boa dose de discursos morais.
O desaparecimento da fama das Misses Porter
Jane e Anna Maria viveram um contexto em que Napoleão ameaçava dominar toda a Europa. Não por acaso, seus romances falavam de liberdade e independência. E eram ambientados em nações que sofriam ameaças. O próprio Napoleão proibiu a publicação dos romances de Jane na França, imaginando que eles pudessem suscitar revoltas populares.
Se em 1814, as irmãs Porter viviam seu auge, elas nem imaginavam que logo sua fama começaria a minguar. Neste ano, elas chamavam muito mais a atenção que escritoras que se tornariam muito mais famosas – como Jane Austen, que lançou neste mesmo ano Mansfield Park, que foi praticamente ignorado pela crítica e vendeu mal.
Mas outro livro foi lançado em 1814 e chamou muita atenção. Waverley or ‘Tis Sixty Years Since era o tipo de romance que as irmãs produziam. Porém, seu autor não era identificado (em pouco tempo, se descobriria que a autoria era do poeta escocês Sir Walter Scott).
Só que Scott, que era um conhecido de infância das irmãs, nunca reconheceu a “dívida” com elas, o que deixou as escritoras muito magoadas. Scott logo começaria a ofuscar Jane e Anna Maria tanto na fama quanto na reputação. Elas começavam a perder o reconhecimento que tinham por inaugurar o romance histórico.
Ocorre que o gênero do romance, até então, era mais típico das mulheres. Mas Sir Walter Scott começa a inverter esta reputação com os seus livros.
As irmãs Porter contra Sir Walter Scott
Scott e as irmãs Porter eram amigos há pelo menos trinta anos. Ele já era um poeta conhecido quando começou a publicar romances históricos. E elas o acusavam – e a outros homens – de partir do universo criado por elas para gerar uma nova produção. “É monstruoso como esses poetas interpretam o vampiro com nossas obras. Uma hora ou outra, acho que o público solicitaria a verdadeira genealogia desses assuntos”, escreveu Jane em uma carta para Anna Maria.
Todas estas histórias sobre um suposto “roubo” ficaram registradas nas milhares de cartas que as irmãs trocavam, e que ficaram escondidas por quase 200 anos. Nestas cartas, Jane e Anna Maria revelam detalhes sobre este incômodo causado pelo sucesso de Walter Scott. E a suspeita de que ele estivesse se dando melhor por ser homem.
Mas diferente do que pode parecer, as irmãs Porter tinham muita informação. Elas sabiam que o mercado literário funcionava tendo como base a imitação. Mas como Scott nunca escreveu algum agradecimento pelo nicho que elas haviam criado, a reputação delas começou a ruir.
Estas fascinantes cartas tiveram sua preservação em bibliotecas espalhadas pelo mundo. A maior parte delas está nos Estados Unidos. Recentemente, as irmãs ganharam uma biografia, chamada Sister Novelists: The Trailblazing Porter Sisters, Who Paved the Way for Austen and the Brontës, que conta as suas ricas vidas e carreiras que foram esquecidas.
Jane morreu em 1850, e Anna Maria em 1832. Além do suposto roubo de Scott, o período de seu sucesso restante terminava logo depois, exatamente quando as irmãs Brontë inauguravam o romance vitoriano. Talvez isso explique o motivo pelo qual as Brontë ganharam fama como célebres irmãs escritoras. E as Porter, entretanto, se tornaram praticamente esquecidas pela história.