O nome da tour dialoga com o atual momento político do país
O legado da banda Legião Urbana está mais vivo do que nunca. Os músicos Dado Villa-Lobos, 57, e Marcelo Bonfá, 58, organizam um tributo musical à banda na turnê que iniciam no próximo mês. Sugestivamente batizada de “As V Estações’. Para o vocal, convidaram o ator e cantor André Frateschi, 48.
A sequência de espetáculos pelo país vai revisitar o repertório de dois dos mais emblemáticos álbuns do extinto grupo. Que são: “As Quatro Estações” (1989) e “V” (1991). Para Frateschi, o nome da tour simboliza não apenas a união dos discos em questão, mas dialoga com o atual momento político do país.
“Estamos em uma espécie de renascimento, de saída das trevas. O que é que vai vir? É uma feliz coincidência de momentos”, define.
Fã de Legião desde a infância, Frateschi acredita que o lançamento de “As Quatro Estações” marcou um divisor de águas na trajetória do conjunto.
Dado Villa-Lobos traz ótimas recordações quando ‘As Quatro Estações’ foi gravado
“Há um amadurecimento temático da banda, uma mudança significativa, mais adulta mesmo. Passa da coisa do punk para uma busca espiritual – o que estamos fazendo no mundo? Esses dois discos para mim resumem essa busca”, analisa.
Dado Villa-Lobos, que fez parte da formação original da Legião Urbana, traz assim, ótimas recordações do período no qual ‘As Quatro Estações’ foi gravado.
“A gente vinha do sucesso de ‘Que País é Esse?’, que nada mais era do que um resgate do repertório do Aborto Elétrico [banda anterior de Renato Russo]. Ficamos realmente quatro estações lá fazendo o que seria ‘As Quatro Estações’. Demorou um tempo, mas foi incrível”, lembra-se.
‘Legionário’ desde o berço
Embora muitos não saibam, a história de André Frateschi com a Legião Urbana começa muito antes de 2015. Ou seja, ele já participou de um primeiro tributo à banda. Graças a um empurrãozinho da mãe, a atriz Denise Del Vecchio, ele teve a chance de conhecer os ídolos ainda criança. Dessa maneira, conseguiu visitá-los no camarim nos bastidores de um show. “Isso foi a epifania da minha vida! Quando assisti a esses caras pela primeira vez, tinha 11 anos e descobri o que queria fazer na vida. [Por isso] a minha memória desse tempo é tão forte”, emociona-se André.
Dado Villa-Lobos também se recorda com carinho desse primeiro contato com André e enxerga com comoção que, hoje, eles estejam juntos nessa homenagem à Legião. “Foi um grande reencontro de 30 anos.”
Substituir Renato Russo
Justamente por conta do respeito que tem ao repertório clássico da Legião, André Frateschi sempre enxergou com extrema responsabilidade e cautela esse desafio. Estamos falando de emprestar sua voz às canções compostas e interpretadas pelo saudoso Renato Russo (1960-1996).
“A primeira coisa que encarei quando resolvi aceitar essa missão é que o Renato é insubstituível. Entendi que tinha que pegar o que essas músicas significaram durante toda a minha vida e, assim, fazer uma tradução disso, com as minhas características. Isto é, sem tentar emular nada do Renato – nem nos gestos, nem no timbre, nem nos trejeitos. Acho que seria desrespeitoso e inócuo, uma coisa que não ia dar em nada”, analisa.
Para Dado Villa-Lobos, essa autenticidade artística de André casou perfeitamente com o que ele e os demais integrantes buscavam para a homenagem aos 30 anos da banda, oito anos atrás. “A gente não queria uma espécie de clone, que emulasse o Renato. Queríamos uma pessoa que tivesse justamente o perfil do André.”
Legado inquestionável
O legado deixado por Renato Russo é uma coisa que não só André e Dado, mas todos os fãs e ex-integrantes do Legião Urbana enxergam com o máximo respeito.
“O Renato era esse cara que sempre queria fazer algo épico. Ele falava sempre: ‘O que a gente vai fazer aqui é música de catálogo’. Ele sempre quis lançar um disco duplo, mas a gente nunca conseguiu”, lamenta Dado.
“A sensação que eu tinha é que ele estava sempre olhando tudo que podia ser visto. Se tinha um cara com uma missão, era o Renato. Ele tinha essa missão e passou a vida dele muito em função de cumprir essa missão. Por isso, essas músicas têm essa relevância até hoje”, acredita André.