Polilaminina tem capacidade de estimular neurônios maduros a rejuvenescem e criarem novos axônios, estruturas responsáveis por transportar impulsos elétricos no corpo
Um medicamento desenvolvido a partir de uma proteína extraída da placenta humana foi apresentado em São Paulo (SP) e pode representar avanço histórico no tratamento de lesões que regenera medula. Batizado de polilaminina, o fármaco é fruto de 25 anos de pesquisas lideradas pela bióloga Tatiana Coelho de Sampaio, professora da (UFRJ) Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Segundo os pesquisadores, a polilaminina tem a capacidade de estimular neurônios maduros a rejuvenescem e criarem novos axônios, estruturas responsáveis por transportar impulsos elétricos no corpo. Essa ação abre caminho para a regeneração da medula espinhal, algo até então considerado impossível pela ciência
Pesquisa sobre o fármaco que pode regenerar a medula
- O medicamento, desenvolvido em parceria com o laboratório brasileiro Cristália, foi aplicado experimentalmente em pacientes e apresentou resultados promissores;
Entre os oito voluntários que participaram dos estudos clínicos acadêmicos, dois estiveram presentes na apresentação. Um deles é o bancário Bruno Drummond de Freitas, 31 anos, que ficou tetraplégico após um acidente de trânsito. Ele recebeu a polilaminina 24 horas depois do trauma.
“Em cinco meses, mais ou menos, eu já estava completamente recuperado. Tenho uma rotina normal, faço esportes e não passo mais por nenhum tipo de tratamento”, relatou Bruno.
Ele contou que os primeiros sinais de recuperação vieram com pequenos movimentos no dedo do pé, que evoluíram para a retomada total de mobilidade: “Hoje em dia, consigo me movimentar inteiro, claro que com certas limitações… consigo levantar, andar, dançar, voar. Isso me garantiu minha independência”, disse ao g1;
Outro caso é o da atleta paralímpica de rugby Hawanna Cruz Ribeiro, 27 anos, que ficou tetraplégica em 2017 após sofrer queda de dez metros; Três anos depois, recebeu a aplicação experimental. “Recuperei entre 60% e 70% do controle do meu tronco. Sinto que a sensibilidade na minha bexiga voltou, mas ainda não sou independente nessa questão. Não tenho nenhuma dúvida da minha melhora”, disse.
O neurocirurgião Marco Aurélio Brás de Lima, que participou dos estudos, destacou a inovação: “Isso é uma coisa inédita. Porque nenhum estudo tinha demonstrado isso até o momento. No mundo.”
Testes em animais
Os testes também ocorreram em animais. Assim, cães com lesões não provocadas, houve retomada total da marcha, e em ratos, os efeitos apareceram em apenas 24 horas. Em 2021, seis cães com lesões antigas tratados e quatro recuperaram movimentos. O resultado, portanto, foi publicado em revista científica internacional.
O medicamento já está sendo produzido pela planta de biotecnologia do Cristália, utilizando placentas doadas por mulheres saudáveis acompanhadas durante a gravidez. “Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Estamos vivendo um dia histórico para o mundo”, afirmou, emocionado, Ogari Pacheco, fundador e presidente do conselho do laboratório.
Apesar do entusiasmo, especialistas ressaltam a necessidade de cautela
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ainda precisa autorizar a realização de estudos clínicos ampliados em humanos para assim, garantir a segurança da aplicação
O procedimento inicial, caso aprovado, será oferecido apenas a pacientes com diagnóstico de lesão medular recente, ou seja, até três meses após o trauma. Portanto, Hospitais de São Paulo (SP), como o Hospital das Clínicas e a Santa Casa, já estão preparados para realizar as aplicações quando houver liberação.
Aliás, já iniciou o processo de patente da polilaminina, mas pode levar anos para sua conclusão. Ainda assim, pesquisadores acreditam que o tratamento pode se tornar uma das descobertas mais importantes para a medicina e para a humanidade.