Você está visualizando atualmente Onda de calor ameaça próximas safras de soja e milho no Brasil
Clima seco, falta de chuvas e onda de calor do país ameaçam dificultar as exportações de soja e milho e levam a cortes nas estimativas para safra 2023-2024

Onda de calor ameaça próximas safras de soja e milho no Brasil

Clima seco, falta de chuvas e onda de calor do país ameaçam dificultar as exportações das commodities e levam a cortes nas estimativas para safra 2023-2024

Campos ressecados e calor extremo estão atrasando o plantio de soja no país, colocando em risco a próxima safra de milho, que só poderá ser plantada depois que a soja seja colhida.

O produtor Endrigo Dalcin, que cultiva grãos e oleaginosas em Mato Grosso, está entre os que sentem a pressão. Ele tinha planejado originalmente semear 4.900 hectares de soja e depois substituir a maior parte por milho em janeiro ou fevereiro, mas só conseguiu plantar 3.000 hectares até agora.

A seca matou cerca de um quarto das mudas e agora ele terá que replantar em algumas áreas. Quando a soja substituta estiver pronta para colhida, será tarde demais para semear a safra completa de milho que ele imaginou.

Ele não é o único. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, estimou neste mês a safra de milho brasileira em 129 milhões de toneladas, abaixo das 137 milhões de toneladas do ano passado. E é provável que a estimativa caia ainda mais, quando o próximo relatório for divulgado em dezembro.

A Agrinvest Commodities estima que o plantio para a próxima safrinha de milho cairá pelo menos 7%, enquanto a produção deverá cair até 14%.

As estimativas para soja também estão sendo cortadas. A Agrinvest agora prevê que a safra 2023-2024 será de 155,4 milhões de toneladas, abaixo das 163 milhões estimados há apenas algumas semanas.

O ritmo do plantio de soja em Mato Grosso, responsável por cerca de um terço de toda a soja produzida no país, é o mais lento desde pelo menos 2017, segundo o IMEA. Em nível nacional, este é o plantio mais lento desde pelo menos 2019, segundo dados da Datagro.

A Coacen, maior cooperativa agrícola do Mato Grosso, espera que a área plantada para sua próxima safra de milho seja de 10% a 15% menor.

Baixa produtividade

Os problemas não param por aí. Qualquer pé de soja que sobreviva ao clima seco corre o risco de alcançar produtividade abaixo do normal.

E mesmo depois de tudo ser colhido, os gargalos logísticos do país ameaçam dificultar as exportações. A seca na Amazônia prejudicou o transporte de grãos em barcaças fluviais.

Dados todos os desafios, alguns produtores procuram reduzir suas perdas. Paolo Vivenza, de Campos Altos, em Minas Gerais, antes se dedicava só ao café. Mas acrescentou soja e milho há vários anos, depois que os preços subiram.

Ele teve um ótimo ano em 2023, colhendo duas safras, isto é, soja no verão e milho no inverno – ambas com rendimentos recordes. Mas este ano, sua soja está atrasada. Então ele teve que abandonar os planos para uma colheita de milho e nem comprou as sementes.

Alguns produtores, fartos das más condições, trocam soja por algodão. Não é uma troca fácil — o algodão requer maquinário e insumos diferentes. Mas para quem já está familiarizado com a fibra, o investimento pode valer a pena.