Responsabilidade social
Todos os países que utilizam a sharia, a lei islâmica, permitem a poligamia com embasamento no Alcorão. De acordo com a antropóloga Francirosy Campos Barbosa, professora da Universidade de São Paulo, a possibilidade de um homem se casar com até quatro mulheres vem de uma “responsabilidade social”. A prática foi instituída como uma forma de proteger as viúvas que perdiam seus maridos na guerra e fornecer sustento e segurança a elas.
Portanto, a cultura do Catar tem despertado a curiosidade de pessoas ao redor do mundo. Já que estão sob os holofotes do planeta no momento, sobretudo, porque que é a sede da Copa do Mundo. A pequena península do Golfo Pérsico permite, por exemplo, que os homens se casem com mais de uma mulher ao mesmo tempo. Porém, o Emir, como é chamado o líder do Catar, Tamim bin Hamad bin Khalifa Al Thani, de 42 anos, é adepto da poligamia e tem três esposas.
— A poligamia no Islã é como o divórcio. É uma solução para um problema, previsto em lei e com regras claras. Para eles, é impensável imaginar uma mulher na casa de um homem sem o matrimônio — explica.
O islamismo permite que o homem se case com até quatro mulheres. Mas estabelece condições para esses matrimônios. Uma delas, e a mais rígida, é a de que o homem deve ter condições de tratar todas as esposas com igualdade.
Apenas os homens têm esse direito
Francirosy explica que, no islamismo, o casamento é um incentivo para a riqueza. Não necessariamente os ricos terão mais esposas. Mas é necessário ter condição financeira para mantê-las. Pois o homem que não honra suas despesas é considerado pecador. Por essa razão, o casamento com mais de duas esposas pode ser visto como símbolo de riqueza e de status nos países em que a prática é socialmente aceita. A família do emir é a terceira mais rica do mundo, superando até a família real britânica.
No Catar, apenas os homens têm direito de ter mais de uma cônjuge. Sob a sharia, o país tem regras e leis restritivas em relação às mulheres. Lá, as cataris só podem se casar com autorização de um homem da família.
— Do ponto de vista ocidental, é estranho aceitar se casar com um homem que tem outras esposas. Mas para muitas mulheres muçulmanas não há problema algum. Não é unânime, mas do ponto de vista religioso o casamento poligâmico é uma saída para a disparidade entre homens e mulheres. Montar uma família islâmica é o desejo de muitas mulheres. E a poligamia é uma solução, conta.
No Brasil, não é possível contrair outro matrimônio enquanto ainda se é legalmente casado. Contudo, com previsão de pena no Código Penal. A prática é legal em países como Camarões, Afeganistão, Sudão e Emirados Árabes Unidos e em outros de regiões da África, Oriente Médio e Ásia.