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O ministro da Cultura de Portugal promete durante sua gestão devolver às ex-colônias de obras de arte, bens culturais e objetos de culto

Portugal promete devolver obras de arte e outros tesouros

O país fará um inventário para devolver tesouros às ex-colônias

O ministro da Cultura do país, Pedro Adão e Silva, promete durante sua gestão devolver às ex-colônias as obras de arte, bens culturais e objetos de culto. E até restos mortais ou ossadas retiradas das comunidades originais durante séculos de dominação. Isso para desgosto e ira dos eleitores do Chega, das viúvas da ditadura salazarista e dos portugueses saudosos dos tempos áureos das navegações.

Consciente da polêmica em torno do assunto, Adão e Silva afirmou que o processo ocorrerá com discrição. “A forma eficaz para tratar este tema é com reflexão e alguma reserva”, declarou ao jornal Expresso. “A pior forma de tratar este tema é criar um debate público polarizado, não contem comigo para isso. É preciso um trabalho que envolva os museus e a academia de uma inventariação mais fina, e posso garantir que este trabalho será feito.”

Devolver obras, relíquias e artefatos aos proprietários originais, saqueados ao longo de séculos, têm ficado mais comum na Europa e nos Estados Unidos.

O revisionismo histórico provoca incômodo em Portugal

Em agosto, o museu britânico Horniman anunciou o envio à Nigéria de 72 obras da época do reino do Benim.

Em setembro, a Justiça dos Estados Unidos ordenou o envio ao Egito de 16 tesouros avaliados em 4 milhões de euros, cerca de 25 milhões de reais. Cinco dos artefatos “pertenciam” ao Metropolitan Museum of Art. Os museus franceses comprometeram-se em fazer o mesmo.

Por causa da onda revisionista, o governo egípcio solicitou ao Museu Britânico a devolução da Pedra de Roseta. Decisiva, contudo, na compreensão dos hieróglifos e da cultura do Egito Antigo. Pois a pedra, datada do ano 196 antes de Cristo, foi escavada pelo exército de Napoleão, em 1799. Após a derrota do imperador francês, acabou confiscada pelo Reino Unido e levada ao British Museum.

O revisionismo histórico provoca, no entanto, um peculiar incômodo em Portugal. Pois o país é pequeno e busca nas glórias do passado um caminho de afirmação no mundo moderno. Mesmo assim, as mentes mais progressistas têm dificuldade para se desvencilhar do orgulho colonial.

A insatisfação se mistura à xenofobia e ao racismo

Parte dos portugueses, ao serem confrontados com o assunto, recorrem à tese de que são histórias do passado e lá devem permanecer. O melhor seria esquecer e olhar para o futuro. Outros relacionam o debate à invasão de imigrantes e a uma tentativa de destruição da identidade nacional tramada por comunistas, globalistas e estrangeiros. Principalmente, dos integrantes das ex-colônias. A insatisfação, não raro, se mistura à xenofobia e ao racismo. E tem sido explorada, com certa eficiência, pelos extremistas do Chega. Ou seja, Partido cuja principal promessa é devolver aos compatriotas o orgulho imperial.

O debate sobre a reparação ou o simples reconhecimento de que a “glória” portuguesa foi construída com sangue, brutalidade e saques engrossam um caldo mais denso e complexo. No entanto, os colonizadores a cada dia estão em menor número.

Segundo o Censo do ano passado, pela segunda vez em 150 anos, Portugal perdeu habitantes (são 10,3 milhões agora). A queda só não foi maior por causa da chegada de imigrantes.

Entre eles 90 mil brasileiros, além de nepaleses e indianos. Enfim, um em cada quatro moradores tem mais de 65 anos.