Filme Spencer desmistifica família real britânica e faz alusão a um pelotão militar em uma disciplina e burocracia absurdas
As primeiras cenas de Spencer não deixam dúvida do tipo de filme que é. Um pelotão de veículos militares chega à Sandringham House, onde a família real britânica tradicionalmente passa o feriado de Natal. Os soldados que descem dos caminhões, carregam caixas reforçadas, daquelas que normalmente vemos no front. Quando eles se dirigem de forma impecavelmente rígida até a cozinha e abrem as caixas em meio à penumbra, nós as descobrimos cheias de comida cara.
E assim, com uma sequência de poucos minutos, o diretor Pablo Larraín e o roteirista Steven Knight, estabelecem a tese central do seu longa, o seu ponto de vista para Spencer, a família real britânica.
Eles são um pelotão militar condicionado a uma disciplina e uma burocracia absurdas. Um bando de aristocratas transformados em soldados sem um conflito de verdade para lutar. E Diana (Kristen Stewart), bom… ela é uma prisioneira de guerra.
Assim, durante as quase duas horas seguintes, o filme continua emprestando a linguagem visual e os chavões narrativos dos filmes de guerra. Larraín, por exemplo, faz os criados da mansão se moverem como um esquadrão em treinamento matinal.
As cores da fotografia
Enquanto isso, a diretora de fotografia Claire Mathon (Retrato de uma Jovem em Chamas) cria um filme de cores mudas. Quase pastéis, reforçando a realidade monótona e controlada que nasce desse exagero cerimonial. Mas da câmera dela também nascem imagens inesquecíveis. Uma das cenas mostra a princesa Diana caminhando pelo campo enevoado de Sandringham, durante a noite.
Ali, se aproxima da cerca que delimita a propriedade próxima de onde ela passou a infância. Quando aparece emoldurada pela sombra do cercado adornado com arame farpado, Lady Di poderia muito bem estar em uma cena de Platoon ou O Resgate do Soldado Ryan – se não fosse o casaco de grife, é claro.
Assim como nos clássicos de guerra, homens são definidos por seus títulos, suas posições hierárquicas, tanto ou mais do que pelo que sentem ou são. Na posição fragilizada de prisioneira, enquanto isso, a Diana de Spencer encarna tudo o que o público amava na Diana da vida real.
Sua abertura emocional, sua evidente vulnerabilidade diante da máquina burocrática da família real são evidentes. Essas mesmas características, às vezes, explodiam em desafios abertos à convenção, porque ela se via sem nada a perder.
Spencer abre com um letreiro em que promete ser “uma fábula de uma tragédia real”. Quando chegamos ao fim, a impressão é que poucas vezes uma obra cumpriu tão integralmente uma promessa.
Fonte: Omelete