Principalmente se levarmos em conta seu preço
O título de um anúncio jornalístico era “Vinho de R$ 11,50 é eleito um dos melhores do mundo no Reino Unido”. Quando corria o ano da graça de 2012, um vinho espanhol de 3,5 libras, equivalente, na época, a R$ 11,50, havia recebido a medalha de prata em um concurso no Reino Unido. Segundo o texto, o tinto espanhol Toro Loco havia superado vinhos bem mais caros. Para ser mais preciso, o texto afirmava: o tinto havia recebido a medalha de prata. E, portanto, no entender, era o segundo melhor vinho do planeta.
Esse texto alçou esse vinho a um patamar de sucesso quase inalcançável. Sorte do produtor do Toro Loco e de quem o importou. No entanto, desde o título, atraente como este acima, a matéria era um amontoado de erros. E eles se repetiram agora, quando vários jornalistas republicaram um release distribuído por um produtor nacional e saíram alardeando. “Espumante nacional de R$ 30 é eleito um dos melhores do mundo”. Trata-se do desempenho do Conde de Foucauld – Branco Brut no “Effervescents du Monde”, uma avaliação francesa. O Conde de Foucauld é um bom espumante, principalmente se levarmos em conta seu preço. Mas está longe, bem longe, de ser um dos melhores do mundo. A notícia não chega a ser uma mentira, mas resvala nela.
O outro lado da história
As assessorias de comunicação das vinícolas vivem enviando textos com “premiações” desse tipo. Estão no seu papel. Elas só deixam de contar uma parte da história, fundamental para entender como essas informações são enganosas. Um primeiro ponto, essencial: é impossível fazer um concurso para definir quais são os melhores vinhos do mundo. Simplesmente porque é inviável reunir todos os vinhos do mundo em uma mesma competição, mesmo se ela tivesse fases classificatórias, como uma Copa.
Temos, em vários países, avaliações importantes. O mais correto, no entanto, é falarmos em premiação específica. Algo como: “Vinho brasileiro é premiado na avaliação da Decanter”. Ou, neste caso específico do Conde de Foucald, “Espumante brasileiro de R$ 30 é premiado em prova na França”.
Medalhas
O segundo ponto, bem mais curioso, refere-se às medalhas. Quem lê um texto falando sobre um vinho premiado com medalha de ouro ou de prata, e não sabe dos critérios para a concessão desses prêmios, logo imagina algo relacionado ao esporte. Em outras palavras, se é “medalha de ouro”, o vinho é campeão, ficou em primeiro lugar. Foi esse, possivelmente, o pensamento do jornalista em relação ao Toro Loco, tempos atrás. Também é o caso de quem saiu noticiando a “façanha” do Conde de Foucauld. É um equívoco enorme.
Muitas dessas avaliações dão um Grande Prêmio para alguns poucos rótulos. Criam uma segunda qualificação qualquer, tipo Grande Prêmio Especial, para um segundo patamar dos vinhos e, para o restante, há uma farta distribuição de medalhas de todos os tipos. E praticamente todos os produtores saem premiados das avaliações. A edição deste ano do “Effervescents du Monde” distribuiu 71 medalhas de ouro e mais 87 medalhas de prata.
Quer um exemplo da generosidade desse tipo de avaliação?
Veja a tabela de medalhas dos espumantes brasileiros na “Effervescents du Monde”, logo abaixo:
Note algo importante: vários espumantes brasileiros receberam medalhas, seis de ouro e sete de prata. Ou seja, Salton e Ponto Nero, só para ficar em dois exemplos, também poderiam sair alardeando estar na lista dos “melhores do mundo”. Mesmo porque o texto sobre o Conde de Foucauld cita o fato de esse espumante ter ficado no Top Ten da avaliação.
Bem, o Top Ten não tem dez vinhos citados, como seria o esperado, mas 18 espumantes! E, novamente, Ponto Nero e Salton também aparecem nessa estranha relação dos “10 melhores espumantes do mundo”, formada, na realidade, por 18 rótulos. Curiosamente, entre esses melhores do mundo não surge nenhum champanhe de qualidade reconhecida, como um Ruinart, por exemplo. Simplesmente porque as grandes casas não fazem questão de participar desse tipo de avaliação.