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A falta de entendimento entre Brasil e EUA e a decisão do Itamaraty de se queixar em público aponta a divergência nesse assunto

EUA e Brasil divergem sobre sanções do Ocidente contra Rússia

EUA vetam tentativa do Brasil de condenar sanções contra Rússia no abastecimento de alimentos

O governo dos EUA se recusou a aceitar uma proposta do governo do Brasil para modificar uma resolução na ONU (Organização das Nações Unidas) que apontaria para o impacto negativo das sanções contra a Rússia para o abastecimento de alimentos no mundo. O incidente se soma a uma série de desencontros entre os dois países.

Nesta semana, o Conselho de Direitos Humanos da ONU se reuniu em caráter de emergência para examinar a crise ucraniana. Com a aprovação da resolução, incluindo o voto do Brasil; dá um mandato para a comissão de inquérito investigar atrocidades feitas nas periferias de Kiev e de outras cidades ucranianas

Entretanto, o texto também tratou do impacto do conflito para o abastecimento de alimentos do mundo. O problema, de acordo com o governo brasileiro, é que a abordagem dada pelos autores europeus da proposta citava apenas uma parcela do problema; ou seja, a interrupção da produção e exportação agrícola da Ucrânia por conta da operação militar.

Nenhuma referência era feita ao embargo imposto por potências ocidentais contra bancos e o comércio russo. O texto indicava que a insegurança alimentar mundial ocorria “à luz dos impedimentos às exportações agrícolas da Ucrânia; como resultado do bloqueio de seus portos marítimos e da destruição da infraestrutura crítica relevante. Assim como do roubo de grãos dos territórios da Ucrânia sob controle das forças armadas russas nas regiões de Kherson e Zaporizhzhia”.

Falta de entendimento entre Brasil e EUA

No entanto, para o Brasil, o rascunho da resolução estaria desequilibrado e enviesado. Isto é, é como se tratasse do problema de abastecimento apenas pelo ponto de vista da guerra. Para o Itamaraty, as sanções do Ocidente contra a Rússia afetam o abastecimento de alimentos e de fertilizantes de uma maneira tão profunda quanto a incapacidade de exportação de grãos ucranianos.

O governo americano, porém, se recusou a aceitar um texto que tratasse tanto da guerra como das sanções. O Brasil ainda chegou a propor que a frase inteira fosse eliminada, o que tampouco foi aceito pelos autores da proposta. Afinal, o texto original foi mantido. Ao votar, a delegação brasileira pediu a palavra e, publicamente, “lamentou” o fato de que suas sugestões não foram incorporadas.

Para diplomatas, a falta de entendimento entre Brasil e EUA e a decisão do Itamaraty de se queixar em público nesta semana que não foi atendido; foram elementos que revelaram como os dois grandes países das Américas hoje sofrem para encontrar pontos de convergência, principalmente na questão da guerra.

A cada voto sobre a Rússia nos organismos internacionais, o governo brasileiro tem sido alvo de intensa pressão; por parte de americanos e europeus para adotar uma postura mais próxima ao bloco ocidental. Mas o Itamaraty está comprometido em evitar um “cancelamento diplomático” da Rússia e mantém um certo nível de diálogo com Moscou. Tanto por interesse próprio para assegurar o então abastecimento de fertilizantes; ou como para um posicionamento mais construtivo para salvar o sistema da ONU.

OMC

De fato, o cancelamento de Moscou do sistema internacional do comércio teria um peso elevado para alguns países. Enquanto a Rússia e a Ucrânia representam uma parte relativamente pequena do comércio mundial e da produção; em uma nota técnica publicada em abril, a OMC indicou que os dois países são “importantes fornecedores de produtos essenciais, notadamente alimentos e energia”. Ambos os países forneceram cerca de 25% do trigo, 15% da cevada e 45% das exportações de produtos de girassol em 2019″.

A redução dos embarques de grãos e outros alimentos aumentará os preços globais dos produtos agrícolas; uma situação que terá consequências negativas para a segurança alimentar nas regiões mais pobres.

De acordo com a OMC (Organização Mundial do Comércio), a África e o Oriente Médio são as regiões mais vulneráveis; pois importam mais de 50% de suas necessidades de cereais da Ucrânia e da Rússia. No total, 35 países na África importam alimentos e 22 importam fertilizantes da Ucrânia, da Rússia ou de ambos.

Alguns países da África Subsaariana estão enfrentando a possibilidade de aumentos de preços de 50% a 85% para o trigo. Isso como resultado do impacto da guerra nos embarques de grãos da região. “A crise atual pode exacerbar a insegurança alimentar internacional em um momento em que os preços dos alimentos já estão historicamente altos devido à pandemia da COVID-19 e outros fatores”, advertiu o secretariado da OMC.

 

Fonte: Uol