Essa tendência passou a ser observada a partir de 2016
A posse de Aloizio Mercadante no Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social BNDES), aconteceu na última segunda (6). Sendo assim, foi marcada por críticas à redução na concessão de crédito pelo banco de fomento e pela promessa de que a empresa pública vai recuperar o papel de indutora do crescimento do Brasil.
Um levantamento do Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Cemec/Fipe), mostra isso. De fato, houve uma redução dos desembolsos nos últimos anos. Entretanto, o setor privado não só ocupou o vácuo deixado pelo encolhimento do BNDES, como superou os créditos concedidos pelo banco nos governos petistas.
Quando olhamos para a captação de recursos no mercado de capitais, é possível notar que os instrumentos do setor financeiro superaram o patamar do BNDES nos momentos de maiores reembolsos.
Essa tendência passou a ser observada a partir de 2016. Ou seja, quando o volume de emissões de dívida de médio e longo prazo ao mercado ultrapassou os aportes concedidos pelo banco de fomento. Entre 2018 e 2019, o volume de captação de recursos no setor privado, inclusive, superou os desembolsos do BNDES durante o governo Dilma, gestão marcada por grande participação do banco na economia do país.
O Pronampe, por exemplo, teve bastante sucesso
De acordo com o coordenador do Cemec/Fipe, Carlos Rocco, o desenvolvimento na funcionalidade do financiamento das empresas tem sido fundamental nessa evolução. Isto é, com maior qualidade e garantia das operações. Entre as mudanças estão o Open Finance e as fintechs de crédito, além da expectativa pela chegada da duplicata eletrônica.
O resultado dessa equação é uma redução na inadimplência e no spread bancário. Rocco destaca, no entanto, que o BNDES tem um papel central no atendimento a pequenas empresas que não conseguem acessar o mercado privado.
O economista-chefe do Banco BV vai na mesma linha. Roberto Padovani destacou o papel do financiamento público em momentos de maior risco. “Em momentos de tensão, o acesso de microempresas ao mercado bancário é mais complicado. Eu acho que o papel do BNDES é exatamente esse como o que a gente viu em programas na pandemia. O Pronampe, por exemplo, teve bastante sucesso. O BNDES tem, de fato, um papel, mas é um papel localizado. O foco deve ser em micro e pequenas empresas e não em criar campeões nacionais como foi no passado.”
O levantamento da Fipe também mostra como as grandes empresas perderam espaço para as pequenas e médias na destinação dos recursos do BNDES nos últimos anos.
Em 2010, por exemplo, as grandes empresas recebiam mais de 70% dos créditos do banco público. As médias, 8,1% e as pequenas, 6,1%. Dez anos mais tarde, as grandes empresas passaram a representar 47,5% dos aportes do BNDES. As médias saltaram para 26,1% e as pequenas para 17,5%.