Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia, pergunta se o Brasil inventou o dinheiro do futuro com o Pix
Um artigo publicado pelo economista americano questiona o dinheiro do futuro se o sistema de pagamentos instantâneo brasileiro (PIX) não pode ser o caminho para uma moeda digital emitida por Banco Central – CBDC na sigla em inglês.
“O Brasil, de fato, planeja criar uma CBDC. Como primeiro passo, em 2020, o país lançou o Pix, um sistema de pagamento digital administrado pelo BC”, cita o economista. O CBDC do Brasil já está em desenvolvimento e é conhecido por “Drex”.
Krugman destaca a gigantesca popularidade do sistema Pix, que é uma versão pública da plataforma privada Zelle – que funciona nos EUA e é operado por um grupo de bancos privados.
“Mas o Pix é muito mais fácil de usar. E, embora o Zelle seja grande, o Pix se tornou simplesmente enorme, sendo usado por 93% dos adultos brasileiros. Parece estar rapidamente substituindo o dinheiro em espécie e os cartões”, cita o economista.
O Nobel de Economia destaca o fato de que as transferências são concluídas quase instantaneamente. Enquanto que o pagamento em cartão de débito leva até dois dias e são até 28 dias para cartões de crédito, o Pix chega à outra conta em três segundos.
“E os custos de transação são baixos. As autoridades estabeleceram a exigência de que o Pix seja gratuito para pessoas físicas, e o custo de uma transação de pagamento para empresas e comerciantes é de apenas 0,33% do valor da transação, contra 1,13% para cartões de débito e 2,34% para cartões de crédito”, cita Krugman.
Concorrência desleal do Pix?
Diante de tantas características positivas, o economista se questiona se uma plataforma como o Pix surgirá nos EUA. “Não. Ou pelo menos não por muito tempo, por dois motivos”, responde.
“Em primeiro lugar, o setor financeiro dos EUA tem poder demais e jamais permitiria que um sistema público competisse com seus produtos. Ou principalmente, se o sistema público fosse superior”, cita Kurgman.
Nesse trecho do artigo, ele lembra da acusação de concorrência desleal do Pix citada na investigação aberta pelas autoridades americanas contra o Brasil via Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos, o USTR.
“Em segundo lugar, a direita americana está firmemente comprometida com a visão de que o governo é sempre o problema. Mas nunca a solução. Os republicanos jamais admitirão que um sistema de pagamentos operado pelo governo possa ser melhor do que alternativas do setor privado”, cita o economista que tem sido um duro crítico ao governo de Donald Trump.
Para Krugman, “outras nações podem aprender com o sucesso do Brasil no desenvolvimento de um sistema de pagamento digital”. “Mas os Estados Unidos provavelmente permanecerão presos a uma combinação de interesses pessoais e fantasias criptográficas”, conclui.