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As empresas do Reino Unido contratavam europeus com facilidade, agora precisam trazer trabalhadores de mais longe, de países como o Nepal

Reino Unido tem inflação mais alta em 4 décadas, após Brexit

Desde que saiu da UE, Reino Unido perdeu 460 mil trabalhadores europeus

Neste fim de semana, milhares de pessoas enfrentaram até 14 horas de espera para atravessar o Canal da Mancha, entre o Reino Unido e a França. O porto de Dover, na Inglaterra, chegou a decretar estado de incidente crítico.

Uma combinação de fatores gerou, no entanto, o caos na região. Ventos fortes, maior volume de veículos saindo para Semana Santa, bem como, a demora na checagem dos passaportes de quem viaja entre os dois países.

Essa burocracia entre os vizinhos europeus é só uma das consequências de uma decisão que os britânicos tomaram há quase sete anos.

O Reino Unido enfrenta uma crise que pode ser explicada com a ajuda de um tomate. A fruta, com cara de legume, entrou em racionamento nos mercados britânicos – em algumas redes, mesmo com um limite de venda por cliente, as prateleiras ficaram vazias.

A onda de calor na Europa, a pandemia e a Guerra na Ucrânia disparou os preços da energia e dos fertilizantes

A especialista em gestão de abastecimento Fernanda Partridge afirma que a escassez é consequência de um emaranhado de problemas: a onda de calor na Europa, que prejudicou as plantações; a pandemia, que desestabilizou as cadeias produtivas; e a Guerra na Ucrânia, que disparou os preços da energia e dos fertilizantes.

Ela afirma que o Reino Unido até poderia ter driblado parte dos impactos dessas crises, não fosse o Brexit.

Em uma votação apertada, em 2016, os britânicos decidiram deixar a União Europeia, criada para integrar o continente e facilitar o trânsito de mercadoria e de pessoas.

O pesquisador da Universidade Kings College Joel Reland, explica que esse resultado teve como principal motivo a imigração. Como cidadãos da União Europeia, trabalhadores de outros 27 países podiam ir e vir sem impedimentos. O maior objetivo do Brexit era controlar esse fluxo”, ressalta ele.

Apenas 30% da força de trabalho do Reino Unido foi compensada por outros países

E as promessas iam além: sobrariam mais verbas para o sistema público de saúde, mais emprego para os britânicos e salários mais altos.

“Mas, sete anos depois, vemos que essa não é a realidade“, afirma o pesquisador. Nos últimos meses, o que se viu foi greve na saúde, nos transportes e em vários setores.

Desde que saiu formalmente da União Europeia, o Reino Unido perdeu mais de 460 mil trabalhadores europeus. E apenas 30% dessa força de trabalho foi compensada com gente de outros países. Aonde você vai em uma rua do centro de Londres. Como por exemplo, você vê cartazes dizendo ‘contrata-se’. Porque várias empresas estão tendo dificuldades reais em preencher as vagas de emprego hoje em dia”, conta Fernanda.
“Não vimos um aumento de empregos para britânicos, porque falta trabalhador em setores que dependem muito da imigração”, afirma Joe.

 

Tem menos gente trabalhando em lojas, nos transportes e também nas plantações de tomate. Quando o Reino Unido era parte de um mercado único, as empresas contratavam europeus com facilidade. Agora, elas precisam trazer trabalhadores de mais longe, de países como o Nepal, e acabam arcando com mais gastos com vistos de trabalho, por exemplo.